Entre Fé e Razão

As cartas começaram a ganhar um tom diferente. Clara, ainda abalada pela descoberta nos arquivos da cidade, passou a escrever com mais cautela. Em suas palavras havia o peso da dúvida, a sensação de que talvez estivesse mergulhando em uma ilusão alimentada pelo luto. Confessava o medo de estar perdendo o juízo, de enxergar fantasmas onde só existia silêncio.

Rafael, por sua vez, respondia com firmeza serena. Dizia acreditar que o tempo não era uma linha imutável, mas um tecido moldado pela força dos sentimentos. A saudade, segundo ele, tinha poder suficiente para costurar distâncias e até mesmo romper fronteiras que pareciam definitivas. Para ele, o que viviam não era delírio, mas a prova de que o coração carregava uma lógica que a razão não podia compreender.

Clara lia suas cartas com lágrimas nos olhos, dividida entre a lucidez que lhe gritava cautela e a fé que nascia a cada palavra recebida. Já não se tratava apenas de escrever por curiosidade ou por companhia. O elo havia se transformado em necessidade vital. Rompê-lo seria como fechar a porta da casa e sufocar junto com o frio da montanha.

Entre a fé de Rafael e a razão de Clara, um equilíbrio frágil se formava, sustentado pelo desejo silencioso de que, de algum modo, tudo fosse real.