Entrelaçados em entrega – Capítulo 30

Chuva, vinho e pele. Era fim de tarde em São Paulo. A chuva batia suave contra os vidros da sala, como se quisesse nos embalar num ritmo lento

📖 Entrelaçados em entrega – Diário Secreto Para Vera

O mundo exterior se dissolveu. Não existia mais sombra, nem forma, nem tempo demarcado. Havia apenas a geografia deste encontro, um mapa vivo traçado pelo calor e pelo movimento. Nossos corpos se entrelaçavam, um emaranhado de linhas fluidas e tensões suaves, buscando uma fusão que ia além do simples toque.

A pele, umedecida pelo esforço compartilhado, brilhava à luz tênue. Cada gota de suor era um testemunho, um lago minúsculo onde se refletia a intensidade do instante. Era o sal do desejo e da entrega, um conduto elétrico que tornava cada contato mais vívido, mais real. Nossas superfícies não tinham mais fronteiras, apenas um território contínuo e palpitante.

A respiração se tornou uma única melodia ofegante, uma sinfonia sem partitura predefinida. O ar que eu exalava era o mesmo que ele inspirava, num ciclo perfeito e urgente. Nos movíamos com uma cadência ancestral, como se o ritmo nos fosse ditado pelo próprio pulso da terra sob o colchão. Não havia pressa, apenas a profundidade insistente de cada momento, a busca por um centro de gravidade comum.

A entrega era total. Cada músculo, cada pensamento disperso, cada sombra de dúvida foi consumida pelo fogo lento e meticuloso dessa conjunção. Éramos apenas essência, uma vontade pura manifestada em carne. Nos olhares trocados, mesmo no ápice do fechamento dos olhos, havia um reconhecimento absoluto. Não eram dois, mas uma só coisa, temporária e eterna, feita de suor, de suspiro e de uma verdade silenciosa que dispensava palavras.

O universo se reduziu à pressão de uma mão, ao arquejar de um nome sussurrado, à textura da pele sob os dedos. E naquele espaço criado apenas para nós, feito de calor e de tremores, encontrámos não o êxtase de uma fuga, mas o êxtase de um regresso. Ao fim, ficamos imóveis, ainda entrelaçados, ouvindo os corpos aos poucos retornarem de um lugar distante, trazendo consigo a memória do paraíso que é habitar, completamente, outro ser.

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