✦ Espelhos de Verdade – Capítulo 13

No coração de um bairro movimentado, onde salões de beleza costumam espelhar apenas modas passageiras, existe um espaço onde o reflexo é outra coisa. Clara, uma bruxa de riso calmo e olhos que enxergam além da aparência, comanda o Espelho de Vênus, um salão pequeno com cheiro de jasmim e murta.

Lá, cada espelho é encantado com palavras silenciosas de acolhimento. Não para mudar o rosto, mas para revelar o brilho escondido sob as máscaras do dia a dia. Quando alguém se senta diante deles, vê sua essência — não o cabelo desarrumado, não as rugas da culpa, não os olhos cansados de tentar agradar. Vê a coragem de ter chegado até ali. Vê a beleza do que sobreviveu. Vê a inteireza de quem ainda está em construção.

Naquela manhã, uma adolescente de voz baixa e postura encolhida entrou trazida pela tia. Seus olhos evitavam o espelho. Mas Clara apenas penteou seus cabelos com um óleo de alecrim e disse baixinho que o mundo precisa ver quem ela é. Quando, por fim, se olhou, lágrimas rolaram. Não por tristeza, mas por reconhecer uma força que ninguém lhe contava existir.

O salão não vende ilusões. Ele devolve verdades. E em cada rosto refletido, uma alma reencontra o caminho de casa.

Ali, toda beleza é sagrada — porque é inteira, real e única. Ali, ninguém sai como entrou. Saem eretas, sorrindo com os olhos, e com uma nova palavra sussurrada pelo espelho: sim. Você é.

Espelhos de Verdade – Capítulo 13