Maelina – Capítulo 2 – Pactos de Silêncio

A cada lua cheia, quando o manto prateado da noite descia sobre a Floresta dos Sussurros, Maelina saía de sua cabana com gestos firmes e ancestrais. Com suas mãos calejadas pela magia e pela terra, ela preparava a fogueira ritual no claro mais oculto da floresta, onde nem mesmo os ventos ousavam quebrar o silêncio sagrado.

Ali, entre raízes antigas e pedras cobertas de líquen, ela desenhava círculos no chão usando o pó de ossos consagrados — ossos de animais ofertados voluntariamente, encontrados sem violência, em perfeita aceitação do ciclo da vida.

Dentro desses círculos, Maelina escrevia nomes.

Nomes de homens, mulheres, crianças, velhos… pessoas que talvez nunca soubessem da existência daqueles pactos. Em cada traço, em cada letra desenhada com o cuidado de quem costura o destino, ela selava votos silenciosos de proteção. Não exigia oferendas. Não esperava reconhecimento. Apenas sussurrava aos elementos, invocava as raízes da terra e chamava a brisa da noite para testemunhar seus juramentos.

A maioria dos moradores de Althorn nem sabia que estava sendo guardada. Não viam as sombras desviadas às portas de suas casas, nem percebiam o quanto o destino era cuidadosamente guiado para longe das garras da tragédia. Apenas notavam que “tudo ia bem”.

As colheitas eram fartas mesmo em tempos de seca. As doenças vinham, mas não se instalavam. As crianças cresciam fortes, os ventos não derrubavam os telhados, e a fome nunca encontrou morada ali.

Por muitos e muitos anos, Althorn viveu sob esse manto de proteção invisível, acreditando que era apenas sorte, ou talvez, uma benção esquecida de antigos deuses.

Maelina não pedia nada em troca. Sua ligação era com a floresta, com os sussurros que cruzavam o véu da realidade, e com o compromisso silencioso que ela mesma escolhera carregar.

Mas o tempo, implacável, altera corações e adormece memórias.

O que era proteção virou costume.
O que era bênção virou direito.
E bastou o passar dos anos para que a ingratidão florescesse como uma erva daninha.

Sussurros começaram a circular nas tavernas e feiras: “Por que depender de uma bruxa reclusa?”, “Se algo ruim acontecesse, não seria culpa dela?”, “Será que sua presença não atraía os males que dizia afastar?”

A confiança que nunca fora completa começou a se transformar em medo — e o medo, como bem sabia Maelina, era o solo mais fértil para a traição.

Mas naquela altura, a guardiã silenciosa apenas observava, de longe, o envenenamento das sementes que ela mesma havia ajudado a plantar.

E sabia: o verdadeiro teste ainda estava por vir.

Maelina – Capítulo 2 – Pactos de Silêncio

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