Maelina – Capítulo 3 – O Vento da Ingratidão

O tempo, como o rio que lentamente molda a pedra, também alterou o coração do vilarejo de Althorn. A nova geração, criada em tempos de fartura e paz, já não compreendia os segredos que sustentavam sua prosperidade. Para eles, Maelina era apenas uma figura folclórica, um vestígio de uma era de superstições.

— É só uma velha isolada! — murmuravam nas tavernas. — Esses feitiços dela são apenas histórias para assustar crianças.

Outros, mais audaciosos, questionavam seu direito sobre a Floresta dos Sussurros.

— A floresta não pertence a ninguém! — proclamavam, ignorando os sussurros antigos que alertavam para as forças que ali dormiam.

Aos poucos, os moradores deixaram de visitar a cabana de pedra. Os agradecimentos cessaram. As oferendas pararam de chegar. Pior: surgiram boatos venenosos.

— Ela envenena a água do poço! — diziam alguns, esquecendo os anos em que as colheitas floresceram.

— Rouba a sorte das famílias! — acusavam outros, sem recordar como foram salvos das pragas que devastavam vilarejos vizinhos.

Maelina escutava tudo. Cada palavra cortava como vento frio, mas ela se manteve em silêncio, observando da soleira de sua cabana, como quem vê uma árvore podre ruir por dentro.

Então, numa noite em que a lua parecia um olho morto no céu, Maelina tomou uma decisão. Diante da velha fogueira, desenhou o círculo de proteção uma última vez. Os nomes, que durante tantos anos foram traçados com amor e compaixão, foram agora apagados — um a um, como folhas varridas pelo vento.

Ela não lançou maldições. Não proferiu feitiços de vingança. Simplesmente… retirou sua proteção.

E, como a névoa que se dispersa ao sopro da manhã, Maelina desapareceu entre as árvores, levando consigo a única barreira que mantinha as trevas afastadas de Althorn.

Maelina – Capítulo 3 – O Vento da Ingratidão

Para mais histórias de bruxas, veja aqui