Maelina – Capítulo 4 – Quando a Névoa se Afasta

Não houve trovão. Não houve grito. Apenas um silêncio profundo, tão espesso quanto a névoa que, pela primeira vez em décadas, começava a se dissipar da Floresta dos Sussurros.

Naquela manhã, o vilarejo de Althorn despertou para um cenário diferente. A plantação da família Heller, antes verdejante, havia secado por completo, como se décadas de colheita tivessem sido sugadas em uma única noite. Os pássaros não cantavam. O ar, denso e opressor, parecia sussurrar presságios ao ouvido dos que ousavam respirar fundo.

O pequeno Elric, filho do ferreiro, ardia em febre. Nenhum chá de ervas, unguento ou prece surtia efeito. Seu suor era frio, e seus olhos miravam o vazio, como se vissem além do véu visível aos comuns.

O leite das cabras azedava ainda quente. O pão mofava antes de crescer no forno. Até a água do poço, sempre límpida, agora tinha gosto de ferro e tristeza.

As árvores? Ah, as árvores… As sombras que lançavam não obedeciam ao sol. Esticavam-se de forma estranha, encurvadas como dedos, como se seguissem os moradores por onde andassem.

Foi então que os cochichos voltaram a circular:
— “É bruxaria…”
— “Maelina nos amaldiçoou…”
— “Ela se vingou…”

Mas aqueles que conheciam os antigos sinais, os poucos que ainda se lembravam dos tempos de gratidão, sabiam a verdade.

Maelina não lançou feitiço algum. Apenas apagou os nomes do círculo.
E sem sua proteção, o mundo mostrou seu verdadeiro rosto.
Cru e implacável, como sempre fora… antes dela.

Maelina – Capítulo 4 – Quando a Névoa se Afasta

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