Maelina – Capítulo 6 – O Retorno ou o Fim

O céu estava cinzento no dia em que Elia retornou à vila. O silêncio da floresta a acompanhava, como uma presença ancestral que sabia mais do que qualquer livro ou sacerdote. Carregava no peito o peso da verdade — não uma verdade moldada por crenças, mas aquela crua e incômoda, que arde como brasa nas mãos de quem a segura.

Reuniu-se com os anciãos e os moradores sob a copa da árvore sagrada, onde gerações haviam feito juras e pedidos em vão. Elia acendeu uma vela e, com a voz firme, declarou:

— A bruxa que desprezaram nunca os amaldiçoou. Ela os guardava. E agora… apenas deixou de fazê-lo.

A praça caiu num murmúrio tenso. Alguns zombaram. Outros a acusaram de estar enfeitiçada. Mas houve os que pararam, olhos baixos, lembrando dos tempos em que o gado era farto, os filhos saudáveis, e a névoa nunca cruzava os limites do vilarejo.

Ao entardecer, um grupo pequeno — talvez os mais sensatos, talvez os mais temerosos — partiu em direção à floresta. Levavam nas mãos ramos de oliveira, pães recém-assados, velas acesas. Não falavam em perdão. Apenas caminhavam.

Maelina não os recebeu. Mas viu. Dos galhos mais altos, dos véus da névoa. E em seu canto murmurado, oferecido ao vento e à noite, sussurrou:

— Agora sabem que o verdadeiro feitiço… era minha proteção.

E naquele instante, pela primeira vez em muito tempo, a névoa da floresta se curvou suavemente… como em um aceno.

Maelina – Capítulo 6 – O Retorno ou o Fim