No Silêncio da Distância

De vez em quando, a realidade se curva diante da magnitude do que sinto, e eu me pergunto: como a vida ousou ser tão generosa ao cruzar meu caminho com o seu? Não é um amor que se explica por encontros casuais ou toques acidentais. É algo que nasceu além da pele, além do tempo presente, uma semente plantada no solo invisível das almas.

Nós não podemos nos encontrar. Há uma fronteira entre nós, mais antiga que as montanhas e mais silenciosa que o mar. Não é falta de vontade, nem de coragem. É como se o universo, em sua sabedoria infinita, tivesse decretado que nosso amor pertence ao reino do intocável. Uma permissão negada ao corpo, mas concedida à essência.

E assim, amamo-nos no espaço entre os suspiros. No modo como suas palavras chegam até mim e repousam em meu peito como pássaros cansados. Na maneira como meu pensamento, ao vaguear, sempre encontra o seu rosto — não como lembrança, mas como presença viva. É um reconhecimento que vem de antes: nossas almas se abraçam em uma dança silenciosa, como se carregassem a memória de mil vidas em que já fomos um só.

Este amor é a prova de que a distância não passa de uma ilusão dos sentidos. Porque, enquanto você existir no mundo, em meu coração haverá um território inteiro onde a matéria não tem domínio. Onde o amor dispensa mãos para se entrelaçar e lábios para se dizer. Basta-nos a certeza de que, em algum lugar do éter, nossas essências se encontram e sussurram: “Nós nos conhecemos. Sempre nos conhecemos”.

E nessa eternidade compartilhada, onde o físico é apenas detalhe, eu amo você. Com a força de quem sabe que alguns amores não foram feitos para serem vividos, mas para serem eternamente sentidos.