O Amasso na Roupa e a Paciência – Capítulo 36

A manhã no Reino de Veramor começou como tantas outras: com barulho de chaleira, miados exigentes vindos da cozinha, patas correndo pelo corredor e o cheiro reconfortante de pão no forno. O Rei, no entanto, saiu apressado do quarto, já vestindo a camisa que encontrara no fundo da cadeira, com os botões desalinhados e mais dobras do que ele estava disposto a reconhecer no espelho.

A Rainha, que organizava documentos sobre a pequena mesa do escritório, levantou os olhos quando ele entrou na sala com aquela tentativa de elegância desfeita pelo tecido rebelde. Não disse nada de imediato. Caminhou até ele com um sorriso leve, sem sarcasmo, pegou os ombros da camisa e começou a alisá-la com as mãos, como quem desamassa também o cansaço acumulado da semana.

“Até as rugas da tua roupa me lembram da rotina bonita que temos” disse ela, em voz baixa, quase como um segredo compartilhado. O Rei respirou fundo, sorriu de canto e a deixou fazer o que só ela sabia, transformar pequenos descuidos em gestos de cuidado.

Enquanto isso, no chão da sala, um dos cachorros travava uma batalha particular com uma meia esquecida, rodopiando com ela como se fosse um troféu. O outro, deitado ao lado do sofá, observava tudo com a sabedoria serena de quem já aprendeu que, no Reino de Veramor, nem tudo precisa ser perfeito. Só precisa ser verdadeiro.

E naquele instante, entre dobras de roupa, carinhos silenciosos e caos doméstico, os dois entenderam que o amor também mora na paciência, aquela que não cobra, mas cuida, ajeita, espera e ri junto dos amassados da vida.

O Amasso na Roupa e a Paciência – Capítulo 36