O Banho Compartilhado

O vapor envolvia o ambiente como névoa sagrada, transformando o simples ato do banho em um ritual de intimidade e devoção. A água quente descia em fios luminosos, desenhando caminhos sobre a pele da Rainha, enquanto o Rei, com gestos lentos e atentos, deixava que suas mãos traduzissem o amor que palavras não alcançam.

Ele ensaboava seus cabelos com a suavidade de quem toca um relicário. Cada fio que escorria entre seus dedos era tratado como joia viva, herança do próprio divino. O perfume do sabão misturava-se ao cheiro natural da pele dela, criando uma fragrância única — a essência de Veramor.

A Rainha, de olhos semicerrados, sorria em silêncio. Deixava-se cuidar, entregue à ternura que emanava das mãos de seu Rei. Era um banho que lavava mais do que o corpo — purificava as memórias, dissolvia as incertezas, selava novamente o pacto entre alma e carne.

Do outro lado da porta, Luzia miava com impaciência, como se reivindicasse também seu momento de afeto. O som arrancou risos dos dois, e por um instante o vapor se encheu de alegria. O Rei prometeu, entre risadas, que depois daria à pequena guardiã o banho de carinho que ela merecia.

Quando a água começou a perder o calor, o Rei inclinou-se, colando a testa na dela. O toque era leve, mas carregado de eternidade.

— Lavar teu corpo é purificar minha alma, murmurou ele, com a voz embargada de emoção.

Ela respondeu com um beijo lento, como quem sela um voto silencioso. E, envoltos pela neblina quente, corpo e espírito tornaram-se um só rio, correndo juntos para o mesmo destino: o amor.