O Beijo ao Entardecer

O sol descia lentamente sobre os jardins de Veramor, tingindo o céu com cores que pareciam dissolver o tempo. Tons de ouro, laranja e rosa se espalhavam como uma pintura viva, refletindo-se nas folhas, nas flores e na superfície tranquila do pequeno lago ao centro. O castelo respirava serenidade, como se cada pedra compreendesse que aquele era um instante que não deveria ser perturbado.

O Rei e a Rainha caminhavam lado a lado pelo jardim recém-renovado. As rosas abertas ainda exalavam perfume, e o vento leve carregava o som suave das folhas que sussurravam histórias ao entardecer. Lórien permanecia à sombra de uma árvore, atento e silencioso como quem guarda não apenas o reino, mas os momentos preciosos que constroem a memória dos que ama. Nilo, preguiçoso e confortável, acompanhava os dois com o olhar enquanto se espreguiçava no gramado aquecido pelos últimos traços de luz. Ícaro, empoleirado em um galho, soltava pequenas sílabas que ecoavam como poesia infantil, encantado com as cores que mudavam lentamente diante dele.

O Rei parou diante da Rainha quando o sol encostou na linha do horizonte. Houve um silêncio que não pesava, um silêncio cheio, completo, como se o mundo ao redor estivesse oferecendo ao casal o próprio fôlego. Ele observou o rosto dela iluminado pelos últimos fios de luz do dia e sentiu uma gratidão profunda e silenciosa crescer em seu peito. Não era o tipo de gratidão que se expressa com palavras, mas aquela que se sente como um calor firme, que se espalha e se torna parte da alma.

A Rainha segurou a mão dele, entrelaçando os dedos com naturalidade, como quem reconhece um gesto antigo e sempre novo. A união das mãos parecia selar novamente um pacto de vida compartilhada, renovado a cada estação, a cada prova, a cada amanhecer e, especialmente, naquele instante.

O Rei inclinou-se e encostou os lábios nos dela em um beijo lento, terno e pleno. Era um beijo que não buscava pressa nem paixão impetuosa, mas a profundidade de quem encontrou no outro o lugar seguro onde a vida floresce. O entardecer assistiu em silêncio, como se também reverenciasse o amor amadurecido que se revelava ali.

Ícaro cantarolou baixinho, Nilo ergueu a cabeça por um momento e Lórien se aproximou um pouco mais, como se desejasse guardar o instante na memória permanente de seu coração fiel. O jardim inteiro pareceu suspender o ar, reconhecendo que aquele beijo era o fechamento perfeito de um ciclo e o início suave de outro.

O Rei respirou fundo, mantendo as mãos da Rainha entre as suas. Agradeceu sem voz pela presença dela, pela paz daquele momento e pelo amor que, mesmo depois de tantas curvas, reinava com uma serenidade que só existe quando duas almas aprendem a florescer juntas.

O sol desapareceu por completo, dando lugar ao azul profundo da noite. O jardim ficou envolto em uma luz mais fria, porém igualmente bela, enquanto o Rei e a Rainha permaneciam ali, unidos. O entardecer havia terminado, mas a plenitude daquele instante continuaria habitando para sempre o coração dos dois.