O Bolinho Queimada e o Carinho que Adoça – Capítulo 69

O cheiro de açúcar queimado toma a cozinha como um segredo escapando do forno antes da hora certa. A Rainha Vera morde o lábio ao ver o topo dos bolinhos escurecido demais, quase tostado. Luzia e Nilo, sentados no parapeito da janela, observam atentos o movimento com aquele olhar felino que tudo compreende e nada julga. Lórien abana o rabo com esperança, e Bravus late baixo, como se dissesse que qualquer coisa feita por ela já é uma festa.

O Rei entra, guiado pelo aroma que mistura doçura e desastre. Ele olha para a bandeja ainda quente sobre a mesa, os olhos brincando com os dela, e diz sem cerimônia: “Se teus dedos tocaram essa massa, é mais que alimento, é oferenda.”

Ela sorri com um misto de vergonha e malícia, os cabelos soltos emoldurando o rosto com a mesma leveza de um domingo preguiçoso. Ele pega um bolinho, ainda morno, e dá uma mordida. A casquinha queimada estala, o centro macio cede, e o sabor imperfeito o faz sorrir com mais verdade que qualquer prato premiado. “Com teu nome no prato, até carvão me alimenta”, ele diz com olhos cerrados de prazer, como quem saboreia a própria sorte de tê-la por perto.

Ela se aproxima por trás, os dedos passeiam pelo pescoço dele com a mesma delicadeza que usa ao regar suas plantas. Encosta os lábios em sua nuca e sussurra que o segredo do bolinho era só uma desculpa para vê-lo lamber os dedos. Ele segura sua mão, a beija como quem sela uma aliança invisível e murmura que o melhor tempero sempre foi o toque dela.

Enquanto Luzia se espreguiça com charme e Nilo tenta roubar uma migalha do chão, Lórien deita-se aos pés da Rainha e Bravus vigia a porta como um cavaleiro silencioso, o lar inteiro pulsa em harmonia doce. O bolinho queimada vira história, e o carinho dela adoça o resto do dia. E quando o sol começa a cair atrás da cortina de folhas do jardim, o Rei pensa que até os erros da Rainha têm gosto de eternidade.