O Caderno de Receitas

A manhã no Reino de Veramor tinha cheiro de bolo no forno e lembranças antigas. A Rainha sentou-se à mesa com um caderno de capa gasta entre as mãos, um caderno que já fora de sua família, repleto de letras delicadas, pequenas manchas de ingredientes e anotações que pareciam escritas com carinho e tempo. Cada página trazia mais do que receitas: eram memórias preservadas em papel, segredos de gerações.

O Rei a observava em silêncio, encantado com a cena. Havia algo de mágico naquele gesto simples — a forma como ela virava as páginas, o olhar concentrado, a leve curva dos lábios quando encontrava uma lembrança. Ele disse que cada prato dali era precioso, mas que o verdadeiro valor estava em quem os trazia à vida.

A Rainha ergueu os olhos, com um brilho travesso, e perguntou se o doce seria ela mesma. O Rei se aproximou e, com um sorriso tranquilo e ardente, respondeu que sim, com toda certeza — que nenhum açúcar do mundo era capaz de reproduzir o sabor dela, nem mesmo os deuses seriam capazes de imitá-lo.

Enquanto o forno espalhava o aroma quente pela cozinha, Bravus rondava o lugar com o rabo em movimento constante, atento a qualquer migalha que caísse no chão. Às vezes, olhava para o Rei e a Rainha como quem entendia cada palavra, e abanava o rabo em aprovação silenciosa.

O bolo saiu, e a Rainha o cortou com cuidado. O Rei provou o primeiro pedaço e fechou os olhos, como se o gosto o levasse a outro tempo. Disse baixinho que aquele sabor tinha o dom de misturar passado e presente, e que era impossível provar sem sentir o coração derreter.

Bravus finalmente recebeu sua pequena porção, saboreando como um nobre convidado à mesa real. A Rainha sorriu e encostou a cabeça no ombro do Rei, enquanto o caderno permanecia aberto, testemunha silenciosa de um amor que sabia transformar o cotidiano em eternidade.

“Seu sabor é a única receita que nunca se esquece.” 🍰💫