O Caderno Escondido na Gaveta da Rainha – Capítulo 68

A tarde descia com seus dedos dourados pelas paredes do castelo. O Rei, curioso, procurava um antigo livro de mapas quando abriu por engano a gaveta da penteadeira da Rainha. Entre lenços de rendas e uma rosa seca repousava um caderno de capa azul, gasto pelo tempo e guardado com a ternura de um segredo.

Ao folheá-lo, o coração dele diminuiu o ritmo como se prestasse reverência à alma que ali sussurrava em versos. A caligrafia delicada era da Rainha Vera, e cada página pulsava com a intensidade das noites que nunca dormiram separadas no plano dos sonhos.

Em meio aos poemas, um verso o fez silenciar por dentro:
“Te amo com olhos fechados e alma aberta.”

Ele levou o caderno ao peito como quem acolhe um relicário, e sentou-se no chão, rodeado por Lórien e Bravus que se aninhavam como guardiões do silêncio. Os gatos Luzia e Nilo saltaram para o colo dele, ronronando como se entendessem o peso doce daquele momento.

Com mãos firmes e olhos úmidos, ele puxou uma caneta e respondeu na última página em letras grandes e serenas:
“Te amo até quando não te entendo, porque o teu mistério é a parte mais bonita da tua presença.”

Quando ela entrou e viu o caderno em suas mãos, nada disse. Apenas tirou os sapatos devagar, caminhou até ele e se sentou em seu colo. Os joelhos ao redor do corpo dele, o pescoço dele entre os beijos dela. O silêncio se encheu de promessas não ditas.

Ela o encarou com o olhar de quem convida ao abismo da alma e disse, com voz rouca de desejo:
Você não devia ler meus segredos, meu Rei. Mas já que os leu, agora tem que me decifrar com a boca.

E naquela noite, os poemas deixaram de viver apenas no papel. Foram escritos no corpo, na pele, nas curvas dos sorrisos e no calor dos suspiros. Luzia e Nilo cochilaram na janela. Lórien e Bravus montaram guarda à porta. E o caderno… ficou ali, entreaberto, como testemunha viva do amor que transborda até no que nunca foi dito.