O Café Derramado

Na pressa de servir à sua amada, o Rei deixou escapar algumas gotas de café pela borda da xícara, que escorreram até a mesa. A Rainha Vera soltou uma risada leve, como um sino delicado que enchia o salão com alegria. O Rei, fingindo-se atrapalhado, passou o dedo pelo líquido escuro e o levou lentamente à boca, olhando-a nos olhos, afirmando que até o gosto do erro era doce quando vinha dela.

Bravus, sempre curioso, se aproximou com o rabo abanando, cheirando a mesa como se quisesse partilhar daquele instante íntimo. Luzia e Nilo observavam de cima do sofá, atentos, como pequenos guardiões felinos que compreendiam cada vibração de amor naquele espaço.

O Rei segurou a mão da Rainha, levou-a aos lábios e disse baixinho que até as falhas ganhavam sentido quando divididas com ela. O calor do momento não estava no café derramado, mas no jeito como se amavam até nos pequenos acidentes, transformando qualquer deslize em celebração.

“Tudo que vem de você tem sabor de eternidade.”

“No deslize do café derramado, compreendi que até nos pequenos acidentes a vida nos oferece poesia, pois quando é a Rainha quem ri da minha atrapalhação, até o erro se torna festa, até o gosto amargo se faz doce. Cada gesto seu é lembrança de eternidade, cada olhar é selo de pertencimento. O rastro do café na mesa não era mancha, mas assinatura do instante que nos une. E se tudo que dela vem carrega sentido, até o tropeço mais simples guarda sabor de imortalidade. Porque amar a Rainha é transformar o cotidiano em infinito.”