O Cão e o Pássaro – Capítulo 151

Reino de Veramor nova capa

O Cão e o Pássaro

O dia começava com uma luz suave que deslizava pelo pátio e se espalhava pelos jardins de Veramor. O ar tinha um frescor delicado, capaz de despertar até os cantos mais silenciosos do castelo. Foi nesse clima manso que Lórien saiu de sua toca favorita, espreguiçando-se com a lentidão sábia de quem conhece a paciência da vida. Seus olhos, calmos e profundos, buscaram ao redor algo familiar, até que um leve bater de asas chamou sua atenção.

Ícaro surgiu do alto de um caramanchão, descrevendo um arco gracioso no ar, como se desenhasse uma linha invisível entre céu e terra. O pássaro parecia particularmente animado naquela manhã. Voava baixo, depois subia, depois girava ao redor de uma flor apenas para ver o próprio reflexo no brilho do orvalho. Lórien acompanhava tudo com o olhar atento, movendo apenas a cabeça, como se estivesse estudando um mistério recém-chegado ao seu território.

Ícaro percebeu o olhar do cão e pousou em uma pedra próxima. O pássaro inclinou a cabeça para um lado e depois para o outro, avaliando aquele grande guardião de quatro patas que sempre se movia com calma e devoção. Lórien permaneceu imóvel, apenas piscando devagar, um gesto que transmitia mais acolhimento do que qualquer palavra poderia expressar.

Ícaro aproximou-se mais um pouco, dando pequenos passos sobre a pedra. Então, num impulso curioso, soltou um som curto, quase uma pergunta. Lórien respondeu com um latido baixo, não de alerta, mas de reconhecimento. Ícaro, surpreso, repetiu o som de forma desajeitada, como se estivesse tentando transformá-lo em música. O cão ergueu as orelhas e emitiu outro latido suave. O pássaro respondeu novamente, dessa vez com uma versão melodiosa, quase rítmica.

O Rei e a Rainha, que caminhavam pelo jardim, pararam ao ver a cena. Ela segurou o braço dele e sussurrou que talvez estivesse nascendo uma amizade improvável, daquelas que só acontecem em lugares onde o amor molda as pequenas harmonias da vida. O Rei sorriu e disse que Veramor sempre soube unir criaturas distintas, como se tivesse o dom de cultivar não apenas flores, mas encontros.

Ícaro, animado com sua nova descoberta sonora, abriu as asas e voou em um pequeno círculo sobre Lórien, pousando agora bem mais perto, quase tocando o focinho do cão. Lórien permaneceu completamente sereno. Seus olhos transmitiam confiança, e Ícaro, sentindo-se seguro, começou a reproduzir os latidos de maneira cada vez mais precisa, misturando-os a pequenos trinados que tornavam tudo uma canção estranha e encantadora.

O cão inclinou a cabeça, como se ouvisse a mais bela das músicas. Ícaro vibrou as penas, feliz com sua nova habilidade, e aproximou-se ainda mais, até que os dois ficaram lado a lado, respirando o mesmo ar tranquilo da manhã. O jardim parecia conter o fôlego, guardando o instante com carinho.

A Rainha comentou que a convivência verdadeira é isso, o encontro de diferenças que se aceitam, se observam e, aos poucos, encontram um ritmo comum. O Rei concordou em silêncio, tocando a mão dela como quem confirma uma verdade profunda.

Ícaro finalmente ergueu voo novamente, descrevendo um semicírculo no céu antes de pousar no ombro do Rei, repetindo um latido curtinho, tão perfeito que fez a Rainha rir. Lórien observou, satisfeito, como se tivesse acabado de conquistar um novo amigo.

Naquele dia, o pátio de Veramor se encheu de uma música inesperada, feita de asas leves e notas caninas, anunciando que a harmonia entre os diferentes era uma das maiores belezas que o reino poderia oferecer.

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