🕯️ Capítulo VI: Thalia – A que conversa com os mortos (Elemento: Sombra)

Thalia nasceu quando o mundo silenciou. A noite sem lua cobria o céu como um manto opaco, e os sinos da vila, por algum motivo, pararam de tocar. Foi numa cripta esquecida, entre ossos e musgo, que ela veio ao mundo — como se a própria morte quisesse presenciar seu nascimento.

Antes de falar, já murmurava nomes que ninguém pronunciava há séculos. Aprendeu a andar pisando sobre túmulos com respeito, como quem caminha por entre as páginas de um livro sagrado. Desde sempre, os mortos a seguiam — não com assombro, mas com reverência. Era a filha deles. A intérprete. A ponte.

Thalia nunca teve medo da escuridão. Pelo contrário: via nela os contornos de rostos antigos, de histórias não contadas, de verdades sepultadas. Seus olhos brilhavam de forma diferente quando estavam no breu. E sua voz, baixa e serena, era como uma chave para abrir portas que não deveriam mais ser abertas… mas precisavam ser.

Ela não invocava os mortos por vaidade nem por poder. Ela os ouvia. E essa escuta, mais do que rara, era sagrada. Suas conversas com os que partiram revelavam arrependimentos, sabedorias, advertências. E às vezes, apenas silêncios que precisavam ser compartilhados.

Na noite do ritual, enquanto o Círculo das Oito se reunia ao redor do lago, foi Thalia quem acendeu as velas flutuantes e sussurrou para a terra. Pediu permissão aos ossos. Agradeceu aos que já foram. Honrou os nomes que só ela sabia pronunciar.

“A morte só assusta os que esqueceram que ela também tem voz.”

🕯️ Capítulo VI: Thalia – A que conversa com os mortos (Elemento: Sombra)

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