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🌑 O Círculo que Não se Fecha – Capítulo 8
A clareira estava silenciosa, mas não em paz. O céu se tornara cinza, espesso como cinzas suspensas. O Grande Carvalho pulsava, suas raízes vibravam sob os pés dos aldeões como cordas tensas prestes a se romper. A terra respirava, e sua respiração era agitada.
Ao redor de Cael, a aldeia se dividia: havia os que temiam o que ele se tornara, e os que viam nele uma esperança. Mas nenhum deles sabia o que viria se recusassem a plantar a “semente do retorno”.
Idran se adiantou, apoiado em sua bengala trêmula. Falou como quem reconhece uma dívida.
— Durante anos alimentamos a terra sem perguntar o preço. Agora, ela quer resposta. Mas o que ela quer, realmente? Mais sangue? Mais silêncio?
Cael apenas observava. O âmbar de seus olhos agora oscilava como brasa prestes a apagar.
Foi então que o chão se partiu com um estalo seco. No centro da clareira, onde antes havia apenas folhas e raiz, formou-se um círculo perfeito de terra aberta. Dele, uma figura emergiu.
Era Enid.
Mas não era como antes.
Sua pele carregava traços de terra e seiva. Seus olhos, úmidos de dor e revelação. Ela parecia ter envelhecido anos em poucas horas.
Caminhou até o centro do círculo. E falou:
— A terra não quer mais um corpo. Ela quer memória. Verdade. Ligação.
Todos ficaram em silêncio.
— O ciclo de oferendas sempre foi uma mentira meio contada. A entidade sob nós não deseja morte, deseja presença. Somos nós que nos ausentamos. Esquecemos. E por isso ela cobra. O esquecimento é a verdadeira quebra do pacto.
O Guardião, com olhos arregalados, sussurrou:
— Então, qual é o sacrifício que resta?
Enid olhou para todos com firmeza.
— A renúncia. Alguém terá que permanecer na Terra Profunda. Não como oferenda, mas como ponte viva. Alguém deve lembrar, todos os dias, para que o pacto não se quebre mais.
Um burburinho cortou o silêncio.
— Não é justo, disse Darina. É um castigo disfarçado.
— Não — respondeu Enid. É o único tipo de amor que a terra entende: aquele que permanece. Não o que se entrega de uma vez. Mas o que continua, silencioso, raiz.
Cael se aproximou dela. Tocou sua mão. Seus olhos se entenderam. E, então, o menino falou pela última vez:
— Eu não deveria ter voltado. Você, Enid… é a semente verdadeira.
O corpo do menino se desfez em pétalas e poeira dourada, dissolvendo-se no ar, como se a terra o tivesse tomado de volta com ternura.
Enid olhou uma última vez para a aldeia. Sorriu com tristeza.
— O círculo não se fecha. Ele se transforma.
E sem esperar aprovação, deu um passo para dentro da fenda viva. A terra a acolheu sem dor, como quem reconhece uma filha.
O chão se fechou.
E o Grande Carvalho floresceu pela primeira vez em séculos.
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