O Decreto do Beijo Real

No Reino de Veramor, onde o tempo parecia sempre dançar conforme o compasso do coração, uma tarde dourada se estendia sobre os jardins reais. O sol, preguiçoso e cúmplice, despejava seus últimos raios sobre as flores e os corredores de pedra clara, enquanto o perfume do jasmim subia como um suspiro apaixonado.

A rainha passeava entre as roseiras encantadas, deixando que seus dedos deslizassem suavemente pelas pétalas úmidas de orvalho tardio. Seus passos, leves como promessas não ditas, despertavam sorrisos nas estátuas e cochichos nas folhas. À distância, os dois cachorros reais, Lórien e Bravus, corriam em círculos ao redor de um arbusto de lavanda, disputando a posse de um graveto mágico que flutuava e girava sozinho no ar. Já os dois gatinhos, Luzia e Nilo, repousavam numa almofada estendida sob uma figueira antiga, observando tudo com aquele olhar sábio e sonolento dos que já nasceram sabendo dos mistérios do amor.

Foi nesse cenário que o rei se aproximou. Não com a pompa dos grandes discursos, mas com o silêncio elegante de quem conhece cada detalhe da alma da mulher que ama. Ele vinha com um ramo de lírios azuis nas mãos e um brilho travesso nos olhos, como quem guarda uma carta escondida sob a manga, ou sob os lábios.

Ao ver a rainha de costas, absorta entre os aromas e os pensamentos, ele não resistiu. Abraçou-a pela cintura, colando o peito ao dela pelas costas, como quem sela uma aliança secreta entre o corpo e o destino. Ela não se assustou. Sorriu de canto, como se já soubesse que ele viria, e talvez soubesse mesmo. Afinal, rainhas também são feitas de presságios doces.

O rei mordeu o canto do sorriso da rainha e disse, com a voz rouca de desejo contido:

“Se teu beijo fosse decreto, eu me renderia antes mesmo de ler.”

A rainha se virou devagar, com olhos que diziam coisas proibidas em voz baixa. Acariciou a barba do rei com as pontas dos dedos, inclinou-se em seu ouvido e devolveu:

“Então que se cumpra. Este sorriso é tua ordem… e teu castigo.”

Lórien, o mais arteiro dos cachorros, latiu como se aplaudisse a ousadia do rei, enquanto Bravus girava com o graveto levitando entre as patas. Os gatinhos apenas abriram um olho, cúmplices e preguiçosos, como se aquela cena já fosse parte do teatro sagrado que conheciam de cor.

O beijo veio como um juramento antigo, selado não por coroas, mas por desejo, ternura e aquela pitada de humor que transforma o amor em reino. Ali, entre os jasmins e as gargalhadas silenciosas do vento, o rei e a rainha esqueceram o tempo, e o tempo, por gratidão, os esqueceu também.

O Decreto do Beijo Real