🜺 O Dente do Mundo – Capítulo XXXIII

Nas profundezas além do esquecimento, onde nem os mortos ousam sonhar, repousa algo que nunca deveria ter existido. Cravado no osso oculto da Terra, envolto por séculos de pedra, fungos e silêncio, há um único fragmento de ameaça primal: o Dente do Mundo.

Não foi esculpido por deuses, nem parido por titãs. Ele nasceu com a Terra, uma lasca de fome pura, enraizada na fúria do que jaz abaixo de tudo. Dizem que, nas noites em que os sismógrafos enlouquecem e o solo respira como se fosse carne, ele se move, milímetros de aviso.

Exploradores, mineradores, bruxos da geologia e tolos guiados por ambição já tentaram chegar até ele. Alguns voltaram sem olhos. Outros voltaram apenas em sonhos alheios, murmurando um nome que não pode ser pronunciado em línguas que ainda não morreram.

Liora desce agora por uma espiral de túneis esquecidos. Sua lâmpada não ilumina, ela apenas denuncia o que não quer ser visto. O ar pulsa. As paredes vibram com uma fome ancestral. E então ela vê: o Dente está se movendo, lascando rochas com um rangido que parece rasgar o tempo.

Ela não sabe se está diante de um ser, uma arma ou um aviso. Mas sabe o que significa:
A Terra não é um planeta. É uma boca. E ela está faminta.

“Se o mundo morder, não sobrará carne.”

O Dente do Mundo – Capítulo XXXIII