O Despertar de Afetos

As cartas começaram a ganhar um tom novo, mais íntimo, mais vulnerável. Clara, pela primeira vez, ousou escrever sobre o que não confessava a ninguém: a falta que sentia de um toque, de uma mão que lhe percorresse os cabelos, de um abraço capaz de aquecer as noites que pareciam não ter fim. Falava de saudade de algo que já não lembrava se um dia tivera de verdade, mas que seu corpo ainda pedia em silêncio.

Rafael respondeu com a mesma entrega. Contou de sua solidão diante da lareira, das noites em que imaginava como seria ver o rosto dela iluminado pelas chamas, o contorno suave da pele refletindo em luz e sombra. Descreveu não apenas um desejo, mas um anseio de presença, de olhar nos olhos dela como quem encontra uma casa depois de longa viagem.

A cada confissão, os dois se aproximavam mais do território perigoso do impossível. Não eram apenas lembranças de vidas marcadas pela dor, mas desejos que começavam a ganhar corpo. Clara sentia, ao dobrar cada carta, que também estava dobrando o coração, escondendo ali dentro uma promessa que nem ousava nomear. Rafael, por sua vez, percebia que já não escrevia apenas para aliviar o peso do passado, mas para desenhar um futuro que talvez nunca pudesse existir.

E, ainda assim, naquela troca silenciosa de papéis e sentimentos, o impossível começava a se insinuar como promessa: um encontro que, mesmo improvável, já habitava os dois como se fosse inevitável.