O Dia da Partida

O sol nascia tímido naquele dia, tingindo a cidade de tons dourados que pareciam anunciar uma despedida. Lucas caminhava pelas ruas ainda silenciosas, com o coração pesado e os pensamentos turvos. Cada passo que o aproximava da estação era uma luta contra a realidade que se impunha. Helena estava partindo, e ele sentia como se todo o mundo estivesse se despedaçando ao redor.

Quando a encontrou, a mala já repousava ao lado de seus pés, como se fosse um símbolo definitivo da decisão tomada. Ela olhava para o horizonte, sem conseguir encarar seus olhos por muito tempo. Lucas, ofegante não pela corrida, mas pelo desespero, aproximou-se e tentou encontrar palavras que pudessem prender o tempo, que pudessem impedir o inevitável.

Helena, disse ele com a voz embargada, não vá. Nós podemos recomeçar aqui. Ainda há tanto a viver, tanto a consertar, tanto a descobrir juntos. Mas enquanto falava, percebia a fragilidade de cada palavra, como folhas secas levadas pelo vento.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas havia uma serenidade que ele não compreendia. Lucas percebeu que não era falta de amor, não era indiferença. Era algo maior, como se a própria vida a empurrasse para outro destino, e nada pudesse conter o curso dessa correnteza.

O apito distante do trem rompeu o silêncio, e naquele instante ele sentiu o peso da impotência. O tempo era um rio que corria sem cessar, indiferente aos seus pedidos, e ele não tinha como represar suas águas.

Helena segurou sua mão por um breve instante, longa o suficiente para que ele sentisse o calor dela gravado na pele, curta demais para que pudesse acreditar que seria eterno. Então, com passos firmes, ela seguiu para o vagão, levando consigo um pedaço de sua alma.

Lucas ficou parado na plataforma, olhando o trem desaparecer no horizonte. O vazio que o cercava não era apenas ausência. Era a certeza de que alguns caminhos nunca se cruzam novamente, por mais que o coração insista em esperar.

O dia da partida não foi apenas dela. Foi também o dia em que ele perdeu uma parte de si, tragada pelas águas de um rio impossível de conter.