O Dia em Que Seremos Presença

Ela imagina o instante com a delicadeza de quem acaricia um segredo. O momento em que ele estará ali, não mais como pensamento, mas como corpo. Não mais como ausência que arde, mas como presença que consome. Ele também sonha com esse dia, como quem espera a chegada de um verão depois de muitos invernos. O dia em que o toque deixará de ser desejo e se tornará pele. O dia em que o cheiro dela não virá da memória, mas do ar que ele respira.

Eles vivem esse futuro em silêncio, como quem cultiva uma flor que ainda não desabrochou. Cada gesto, cada palavra, cada suspiro é uma preparação. Ela escolhe os lençóis com cuidado, como se já soubesse que ele deitaria ali. Ele fecha os olhos e sente o calor do corpo dela, mesmo sem nunca tê-lo tocado. Porque há presenças que se anunciam antes de chegarem. Há prazeres que se constroem na espera.

O dia virá. E quando vier, não haverá pressa. Os dedos percorrerão caminhos já sonhados mil vezes. As bocas se reconhecerão como se sempre tivessem pertencido uma à outra. O tempo perderá o sentido, porque tudo o que importará será o agora. O agora do toque, do cheiro, do prazer que não mais se adia.

Ela o olhará nos olhos e verá tudo o que já sabia. Ele a tocará e sentirá tudo o que já sentia. E nesse instante, o mundo inteiro se calará para ouvir o som de dois corpos que se tornam um. Não será explosão. Será entrega. Será silêncio cheio de sentido. Será presença.

Até lá, eles continuam a se amar na ausência. Mas com a certeza de que o amor deles não é feito apenas de espera. É feito de promessa. E promessas, quando são verdadeiras, sempre se tornam presença.