O Domingo em que Nada Aconteceu – Capítulo 40

No Reino de Veramor, o domingo amanheceu preguiçoso, como se o tempo tivesse tirado folga. O sol filtrava-se pelas cortinas com delicadeza e o aroma do café invadia o ar, misturando-se ao cheiro doce da Rainha, ainda enrolada no lençol, e ao perfume amadeirado do Rei, que preparava a mesa com uma calma devota.

Lá fora, no quintal, os dois cachorros corriam em círculos, latindo entre si como se disputassem a posse de um galho seco — um trono em miniatura, talvez. Já os dois gatinhos, com seus olhos preguiçosos e elegância felina, brincavam de pega-pega entre os vasos e almofadas, como quem dança sem ensaio.

Nada estava marcado. Nenhuma obrigação, nenhuma lista, nenhum compromisso. E isso fazia do dia algo raro e precioso.

A Rainha se espreguiçou como uma deusa que acabava de ser esculpida pela manhã. O lençol escorregou com preguiça pelos ombros dela, revelando só o suficiente para provocar um eclipse no pensamento do Rei. Ele a olhou como quem agradece a vida por ter transformado um sonho antigo em presença.

Ela o flagrou no olhar demorado e, com um meio sorriso, provocou com doçura:

— Parece que o mundo pode acabar lá fora, mas teu olhar sempre me despe primeiro.

Ele se aproximou, beijou-lhe o ombro com a leveza de um segredo e respondeu, com voz embriagada de admiração:

— E mesmo se o mundo acabasse, eu pediria mais cinco minutos contigo, nessa cama, nesse silêncio, nesse agora.

O dia seguiu assim: feito de toques demorados, sorrisos cúmplices, olhares que atravessavam a pele. Ela deitou-se sobre ele no sofá, os pés entrelaçados, a cabeça repousando em seu peito. Os cachorros se aninharam aos pés dos dois, como se fizessem guarda de um castelo invisível. Os gatos subiram no encosto e observaram tudo como os verdadeiros senhores da casa.

Não falaram muito. Não precisaram. Cada cafuné era uma declaração. Cada silêncio dizia “obrigado por existir”. E cada beijo roubado entre um gole de chá e o afago num dos animais dizia tudo o que a linguagem humana jamais conseguiria traduzir.

Foi um domingo em que nada aconteceu.
E ainda assim, foi um dos dias mais belos já vividos no Reino de Veramor.

O Domingo em que Nada Aconteceu – Capítulo 40