O Encontro com Helena

O som das ondas suaves o envolvia quando Lucas abriu os olhos. O cenário não deixava dúvidas, estava de volta a uma manhã clara de verão, a areia quente sob os pés e o aroma salgado do mar enchendo o ar. À sua frente, a cena que jamais esquecera ganhava vida com uma nitidez que o surpreendia. Helena estava sentada em um banco improvisado de madeira, concentrada diante de uma tela apoiada no cavalete. O pincel corria delicado, capturando em cores as formas vivas do horizonte.

Ele recordava aquele instante como se fosse apenas uma lembrança distante, mas agora cada detalhe parecia pulsar de maneira diferente. O reflexo da luz dourada dançava sobre a superfície da água, criando um brilho que quase o cegava. O vento, sempre presente à beira-mar, bagunçava os cabelos de Helena, fazendo com que mechas soltas roçassem o rosto dela enquanto continuava pintando.

Lucas permaneceu imóvel, como se temesse quebrar o encantamento. Havia visto Helena muitas vezes em sua memória, mas nunca com essa intensidade. As cores em sua paleta refletiam não apenas o mar e o céu, mas também algo de dentro dela, uma chama que parecia se misturar com a paisagem. Ele se deu conta de que, naquela época, não havia percebido a profundidade do momento, distraído pela própria juventude.

Agora, revivendo aquele dia, compreendia a força silenciosa que emanava dela. Helena pintava como se quisesse aprisionar o tempo, como se buscasse eternizar algo que inevitavelmente se perderia. Lucas sentiu uma pontada no peito ao reconhecer a ironia: era justamente ele quem havia recebido o dom de regressar ao passado, e ainda assim não tinha conseguido conservar o que mais importava.

A brisa se intensificou e a tela captou mais um traço de cor. Helena suspirou, alheia à presença de Lucas, que apenas observava em silêncio, tentando absorver cada segundo daquele encontro como se fosse a primeira e a última vez ao mesmo tempo.