O Encontro entre Invernos

A manhã nasceu coberta por uma neve espessa, daquelas que silenciam o mundo. Clara acordou com a sensação de que algo diferente pulsava no ar. O vento sussurrava entre as árvores, a lareira ardia com uma chama mais viva, e a casa parecia respirar junto com ela, como se aguardasse o cumprimento de uma antiga promessa.

Ao abrir a porta, o frio cortou-lhe o rosto, mas ela não se moveu. O horizonte estava encoberto por névoa, e por um instante acreditou estar sonhando. Entre a brancura do inverno, uma figura surgiu à distância. Movia-se lentamente, com passos que pareciam vindos de outro tempo. O coração de Clara disparou.

A figura se aproximava, envolta pela neve que caía em flocos pesados. Quando finalmente o rosto se tornou visível, ela soube. Nenhuma dúvida, nenhum medo. Era ele. Rafael.

Por um momento, tudo ao redor deixou de existir. O ar parecia imóvel, o som da ventania desapareceu, e o tempo se desfez como vidro em névoa. Ela deu um passo à frente, depois outro, até que as distâncias se apagaram. Ele a olhou como quem reconhece um sonho há muito esperado, e sorriu com a fragilidade de quem sabe que o instante é único.

A casa, silenciosa testemunha, parecia vibrar sob seus pés. Dois invernos se tocaram naquele espaço, duas vidas cruzaram a fronteira impossível. Não havia mais ontem, nem amanhã. Apenas o agora, breve e eterno.

Clara sentiu o calor das mãos dele, reais e frias ao mesmo tempo, e entendeu que o milagre não era durar, mas acontecer. O tempo poderia tentar negá-los, mas já não importava. O amor havia atravessado os calendários, e naquele toque, entre o passado e o presente, a casa cumprira seu destino.