O Espelho Confidente

A manhã amanhecia preguiçosa no Reino de Veramor, e a luz entrava pelas janelas com a delicadeza de um toque. No quarto, a Rainha estava diante do espelho, penteando os cabelos com calma, observando o próprio reflexo como quem conversa silenciosamente consigo mesma. O vidro, antigo e adornado em moldura dourada, parecia mais um confidente do que um objeto.

O Rei, ainda envolto no calor do despertar, levantou-se e foi até ela. Parou por um instante apenas para contemplá-la, admirando a graça dos gestos simples, o modo como os fios dourados se moviam sob seus dedos, e o perfume leve que pairava no ar. Aproximou-se por trás, envolvendo-a pela cintura com um abraço lento, e encostou os lábios na curva do pescoço dela.

A Rainha sorriu, sem desviar os olhos do espelho. O reflexo dos dois formava uma pintura viva: o amor expresso em ternura, o desejo moldado em respeito. O Rei sussurrou junto à pele dela que aquela era a única imagem que queria guardar para sempre em sua memória, pois nenhuma paisagem do mundo poderia ser mais bela que o reflexo dela.

Luzia, discreta, observava tudo do canto da cama, com os olhos semicerrados e o corpo enroscado como se vigiasse um segredo precioso. Seu ronronar baixo parecia aprovar o instante, selando a cena com uma bênção silenciosa.

A Rainha virou o rosto, buscando o olhar do Rei pelo espelho, e ali se encontraram — não em palavras, mas em essência. O tempo pareceu parar, e até o vento que passava pela janela reduziu o passo para não interromper aquele momento de reverência e amor absoluto.

“Se o espelho reflete você, ele também se torna sagrado.” 💫👑