O Espelho de Água

A manhã nasceu silenciosa, envolvendo o lago do castelo em uma luz suave que parecia tocar tudo com delicadeza. A Rainha caminhou até a margem e ajoelhou-se, deixando que seus dedos deslizassem sobre a superfície tranquila. A água respondeu com círculos lentos, revelando o reflexo do céu misturado ao rosto do Rei que se aproximava. Ela sorriu ao vê-lo surgir entre nuvens e luz, como se o próprio mundo o desenhasse para ela.

O Rei sentou-se ao lado dela, permitindo que o silêncio fosse seu primeiro gesto de carinho. Os dois se observaram refletidos nas águas claras, lado a lado, unidos por algo que o tempo não conseguia nomear. Ícaro pousou perto deles e inclinou o corpo para beber, mergulhando o bico com movimentos cuidadosos, como se temesse quebrar a magia daquela cena. Lórien ficou logo atrás, atento e tranquilo, mantendo sua postura protetora enquanto o vento brincava com seus pelos.

A Rainha voltou a tocar o lago, e o reflexo ondulou levemente. Naquele pequeno tremor, ela viu a vida que construíram juntos, a calma que encontraram depois de tantas tempestades e a simplicidade que agora os guiava. O Rei aproximou o rosto do dela, e por um instante os dois se viram duplicados em água e céu, como se fossem parte da própria natureza.

O momento permaneceu suspenso, puro e silencioso. Era como se o lago guardasse um segredo antigo: o de que o amor verdadeiro reflete mais do que rostos. Reflete alma, memória, caminho. E ali, entre o brilho do sol e o sussurro das folhas, eles sentiram que nada poderia ser mais belo do que existir assim, unidos e em paz diante da própria essência.