O Espelho do Tempo – Capítulo 166

Reino de Veramor nova capa

O Espelho do Tempo

O quarto estava silencioso quando o Rei se aproximou do espelho antigo, aquele que acompanhava a história de Veramor havia gerações. A luz suave da manhã se espalhava sobre o vidro, revelando seu próprio rosto com uma nitidez que ele não costumava encarar por tanto tempo. Observou as linhas que o tempo tinha desenhado em sua pele, marcas que não surgiram de repente, mas que haviam sido traçadas aos poucos, como anotações de uma vida inteira.

Havia ali sinais de noites mal dormidas, dias de luta, alegrias intensas e preocupações profundas. O Rei passou a mão pelo próprio rosto com cuidado, como se tocasse algo sagrado. Ele percebeu que não eram apenas rugas. Eram registros. Eram capítulos. Eram o testemunho vivo de sua caminhada, de tudo o que enfrentara e de tudo o que amara. O espelho não mostrava um homem que envelhecia. Mostrava um homem que havia vivido.

Enquanto refletia sobre isso, sentiu uma presença suave atrás de si. A Rainha havia se aproximado sem que ele percebesse, ainda envolta na luz da manhã. Seu sorriso era leve, tão leve que parecia flutuar no ar entre eles. Ela colocou a mão sobre o ombro dele, e o Rei viu o reflexo dela surgir no espelho. O contraste entre os dois era harmonioso. As marcas do tempo dela também estavam ali, delicadas como pétalas que resistem às estações.

Quando seus olhares se encontraram pelo vidro, não houve palavras. Havia apenas o entendimento silencioso de duas vidas entrelaçadas. O Rei percebeu que o tempo não os havia afastado da beleza, apenas os havia guiado para outra forma de vê-la. Já não se tratava de juventude. Tratava-se de profundidade. Tratava-se de saber que cada marca era uma memória dividida, uma escolha feita juntos, um dia que não voltaria mas que havia deixado algo precioso para trás.

A Rainha aproximou o rosto do dele e tocou levemente sua pele, como quem reconhece ali um território que conhece de cor. O espelho refletiu esse gesto com uma delicadeza quase poética, mostrando que o amor também envelhece, mas faz isso de maneira digna, luminosa, com raízes profundas. Havia algo de espiritual naquela troca silenciosa, algo que ultrapassava o corpo e alcançava a alma.

O Rei então compreendeu que o tempo não os diminuía. Apenas os revelava. Revelava quem realmente eram, revelava o que haviam construído, revelava a força de tudo o que resistiu. As rugas, antes vistas como sinais de passagem, agora pareciam pequenas coroas de experiência, símbolos de que a vida havia sido vivida com intensidade.

A Rainha sorriu novamente, e o espelho devolveu o brilho desse gesto como se fosse um presente. O Rei respirou fundo, sentindo que aquele instante era uma espécie de benção matinal. Ele virou-se para ela e tocou suas mãos, percebendo que ali, no calor compartilhado, estava tudo o que realmente importava.

O espelho do tempo não mostrava perdas. Mostrava o legado silencioso de dois corações que caminharam lado a lado. E naquela manhã, diante daquele reflexo compartilhado, o amor entre eles parecia ainda mais belo, porque não precisava provar nada. Apenas existia, firme, maduro e verdadeiro, como uma luz que resiste às sombras do tempo.

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