O Fóssil no Porão – Capítulo 43

A chuva caía fina quando Clara desceu ao porão guiada por uma intuição que não sabia explicar. O chão ali sempre estivera coberto por caixas velhas e tábuas esquecidas, mas naquela tarde algo a fez empurrar tudo para o canto. A umidade subia pelas paredes e o ar tinha cheiro de terra funda e silêncio antigo.

Clara ajoelhou-se e começou a remover a camada de terra escura com as próprias mãos. Não sabia o que buscava, apenas que precisava cavar. À medida que a terra cedia, pequenos pedaços de cascalho e raízes secas se soltavam, até que seus dedos tocaram algo sólido.

Era uma forma arredondada e fria.

Com cuidado, ela limpou ao redor até revelar o contorno de uma mão. Não uma escultura, não um osso comum. Parecia um fóssil, mas tinha a textura de algo orgânico preservado fora do tempo. Os dedos estavam curvados como se tivessem sido interrompidos em um gesto.

Clara se inclinou, o rosto a poucos centímetros do achado. Foi então que percebeu.

A mão pulsava.

Lentamente, ritmadamente, como um coração enterrado que ainda se lembrasse de bater.

O espanto congelou seus movimentos. Encostou a palma da própria mão sobre aquela superfície antiga. A pulsação aumentou. Uma sensação de calor subiu por seu braço, junto de uma vertigem súbita. Imagens vagas passaram por sua mente. Um corpo desaparecendo nas raízes. Elias ajoelhado ao lado de algo que ele não conseguia abandonar. E uma voz que repetia dentro dela.

Enterrada mas não esquecida.

Clara afastou-se com dificuldade. O fóssil permanecia imóvel, mas a pulsação persistia, como se agora estivesse sincronizada com a dela.

Na parede do porão, a luz fraca revelou um símbolo gravado na pedra. O mesmo símbolo que havia na chave de bronze.

Clara entendeu. O que estava ali embaixo não era apenas um vestígio do passado.

Era parte de um corpo dividido.

E talvez ela estivesse mais perto de Elias do que jamais ousou imaginar.

O Fóssil no Porão – Capítulo 43