O Gato Que Deitou no Teclado – Capítulo 53

Reino de Veramor nova capa

O Gato Que Deitou no Teclado – Capítulo 53

A tarde avançava preguiçosa no Reino de Veramor, com o céu filtrando a luz por entre as folhas do pomar. O Rei estava na sala, concentrado, tentando terminar um dos relatórios do reino. A mesa estava organizada, o chá recém-preparado fumegava ao lado e a inspiração ameaçava chegar. Mas antes que a primeira frase ganhasse forma, um dos gatos saltou sobre o teclado e se acomodou ali como um rei felino em seu trono particular.

O Rei suspirou, fingindo frustração. Tentou levantar o gato com delicadeza, mas ele esticou o corpo, ronronou e se espreguiçou com insolência, apertando teclas aleatórias como se estivesse escrevendo sua própria versão do capítulo.

A Rainha Vera apareceu na porta, com os cabelos levemente bagunçados e aquele sorriso de canto de boca que o desarmava sem esforço. Observou a cena por um instante e depois soltou uma risada gostosa.

Talvez o gato só queira que você escreva com a boca hoje, disse ela, aproximando-se lentamente, com o gingado natural de quem conhece o próprio poder. Sentou-se na borda da mesa, os olhos fixos nos dele, e passou os dedos por entre os cabelos do Rei, como se quisesse reordenar seus pensamentos bagunçados pela presença dela.

Ele levantou os olhos e viu ali, no olhar da sua Rainha, mais poesia do que em qualquer frase que pudesse digitar. Sorriu, e com uma mão ainda livre, puxou-a pela cintura.

Se tua pele fosse uma página, eu escreveria com a língua o mais belo poema já feito neste reino.

Ela arqueou a sobrancelha, provocando, e murmurou no ouvido dele com voz baixa e quente:

E se teu corpo fosse livro, eu te leria toda noite até decorar cada capítulo com minha boca.

O gato, ainda estirado sobre o teclado, soltou um ronronar longo, como se aprovasse a pausa literária para um tipo diferente de narrativa.

Os outros animais dormiam espalhados pela sala, embalados pelo calor do entardecer. A casa estava silenciosa, como se o mundo tivesse parado para que o Rei e a Rainha pudessem, mais uma vez, descobrir que a escrita mais profunda é feita de pele, suspiro e presença.

E naquele fim de tarde, o único texto que importava era aquele que não precisava de palavras. Apenas de olhares que se completavam e de corpos que se contavam segredos sem pressa, entre risos, carinho e desejo.

O Gato Que Deitou no Teclado – Capítulo 53

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