O Jantar que Virou Declaração – Capítulo 35

No final daquela tarde, a cozinha do Reino de Veramor exalava aromas de afeto e comida caseira. A Rainha, com avental florido e cabelo preso de qualquer jeito, comandava o fogão como quem rege uma orquestra: com precisão, carinho e um toque de poesia. No chão, os dois cães dormiam enroscados, indiferentes ao movimento. Já os gatinhos, como era de se esperar, faziam ronda silenciosa perto da bancada, com olhos atentos e planos secretos.

Enquanto isso, o Rei cuidava da mesa no jardim interno. Cada detalhe parecia escolhido com propósito, a toalha branca bordada, as taças alinhadas, as flores do quintal colhidas de manhã. Sabia que talvez a refeição durasse apenas minutos, mas a cena criada ali ficaria para sempre em sua memória.

No momento em que ela trouxe a travessa principal, um dos gatos, o mais ousado aproveitou o instante de distração para abocanhar uma batata e desaparecer pelo corredor. A Rainha soltou um riso cansado e divertido. O Rei, fingindo não ver, apenas puxou a cadeira para ela com gentileza.

Ao se sentar, notou algo dobrado ao lado do guardanapo. Era um pequeno bilhete, escrito com aquela caligrafia que ela conhecia tão bem. Nele, lia-se:

Tempero nenhum supera tua presença.

Ela sorriu em silêncio, com o coração aquecido. E pensou: no Reino de Veramor, o amor é servido até nos detalhes.

O Jantar que Virou Declaração – Capítulo 35