🜁 O Lamento das Árvores Vazias – Capítulo XXIII

As folhas não mais caem, elas sobem. Arrastadas por um vento que não sopra, mas suga. As florestas de Galhator, há muito dadas como mortas, começam a murmurar entre os troncos ocos e galhos retorcidos. Suas raízes, há eras adormecidas, despertam em espasmos lentos, absorvendo vestígios de sangue ancestral derramado nos tempos em que as bruxas ainda tinham nome e clã.

De cada árvore vazia, um sussurro. De cada sussurro, uma lembrança. E de cada lembrança, uma presença. As bruxas sem covas, aquelas cujos corpos nunca foram queimados, apenas esquecidos, agora seguem as trilhas que as folhas desenham no céu invertido. Seus passos não fazem som, mas seus lamentos arrepiam até a pedra.

Liora caminha entre elas, reconhecendo nomes que nunca aprendeu, mas que sua carne sabe. As árvores a observam com buracos escuros onde antes havia seiva. E em cada tronco há marcas de unhas, de garras, de história.

Ela entende, então, o que o lamento quer: não justiça, não vingança, apenas lembrança. Ser ouvida, mesmo que tarde.

“Toda árvore morta guarda um grito que ninguém quis ouvir.”

O Lamento das Árvores Vazias – Capítulo XXIII