O Livro Esquecido

O fim da tarde tingia o castelo de tons dourados e suaves. A Rainha lia um livro antigo, de capa gasta e páginas amareladas, enquanto o som distante do vento embalava o silêncio do salão. Quando ela se levantou para atender Luzia, que pedia colo com miados insistentes, o livro ficou sobre a mesa, aberto como se respirasse memórias.

O Rei, curioso, aproximou-se. Passou os dedos sobre as letras com delicadeza, como quem toca algo sagrado. Ao virar uma das páginas, algo deslizou suavemente: uma flor seca, prensada entre capítulos esquecidos. Ele a segurou com cuidado, temendo que se desfizesse em pó. O perfume distante do tempo parecia ainda habitar aquelas pétalas frágeis.

A Rainha voltou e o encontrou ali, imóvel, olhando o pequeno tesouro. Quando ela percebeu o que ele havia descoberto, sorriu com ternura e um leve constrangimento. Disse que havia esquecido daquela flor há muito tempo, colhida num dia qualquer que já nem lembrava.

Ele a abraçou por trás, apoiando o queixo no ombro dela, e respondeu baixinho que mesmo as coisas que ela esquecia guardavam beleza, porque tudo que vinha de suas mãos carregava encanto. Ela fechou os olhos, sentindo o calor daquele gesto mais profundo que qualquer palavra.

Nilo, curioso e cheio de energia, saltou sobre a mesa, farejando a flor como se também quisesse participar da descoberta. Sua cauda ondulava no ar, espalhando leveza no instante que já era puro afeto.

O Rei riu e segurou a Rainha ainda mais firme, grato por todos os esquecimentos que o destino tornava lembrança. Naquele pequeno símbolo — uma flor perdida entre páginas — havia o retrato do amor deles: delicado, eterno e imune ao tempo.

“Tudo que você toca floresce, até o que o tempo esquece.” 🌹