O Mergulho no Canteiro de Hortelã – Capítulo 45

O dia amanhecia dourado no Reino de Veramor, e a brisa da manhã trazia o perfume fresco das ervas recém-regadas. A Rainha, com as mãos sujas de terra e a cintura levemente curvada sobre o canteiro de hortelã, era um retrato de encanto vivo. O Rei, distraído com o rastro que o cabelo dela desenhava no ar, caminhava em sua direção quando, num descuido de passos apaixonados, pisou com firmeza justamente no centro do canteiro.

A Rainha ergueu os olhos devagar. Havia ternura, mas também fogo sob seus cílios arqueados. Seu olhar percorreu o estrago nos brotos verdes e então desceu para os pés do Rei, cobertos de terra e culpa. Ela respirou fundo, aproximou-se com a graça de quem domina o desejo e o mundo.

— Se vai me amassar a horta, ao menos traga flores nos lábios, disse ela, com a voz baixa, firme, quase melódica.

O Rei sorriu com o canto da boca, envergonhado e seduzido. Ajoelhou-se diante dela como quem pede perdão e permissão. A terra sob seus joelhos era solo fértil de amor. Ele tomou-lhe os pés com delicadeza e plantou um beijo suave, com a certeza de beijar algo sagrado.

Ela fechou os olhos por um instante. Entre o cheiro da hortelã esmagada e o toque dos lábios dele, sentiu o corpo inteiro florescer em silêncio.

Os dois cachorros corriam atrás de uma bolinha de pano ao fundo. Os gatos cochilavam sob a sombra das lavandas. Mas naquele instante, nada se movia dentro deles, apenas o calor lento, manso e inevitável de quem já se pertence há muito tempo, mesmo em meio a brotos amassados.

Porque no Reino de Veramor, até os acidentes viram rituais de sedução. E cada toque tem raiz.

O Mergulho no Canteiro de Hortelã – Capítulo 45