O Móvel que Entortou

O dia tinha começado com a simples missão de montar uma estante nova para a sala do Reino de Veramor. O Rei espalhou as peças pelo chão, com manuais que mais confundiam do que ajudavam. A Rainha Vera observava, com aquele misto de paciência e divertimento, enquanto Luzia e Nilo, sempre curiosos, se metiam entre as tábuas, brincando com os parafusos como se fossem tesouros proibidos. Lórien e Bravus, deitados ao lado, apenas balançavam o rabo, como se torcessem para o sucesso da empreitada.

O Rei tentou ajustar, empurrou de um lado, puxou do outro, mas a estante, teimosa, acabou ficando torta. Ele a encarou com certa frustração, mas antes que pudesse dizer algo, a Rainha, com um sorriso travesso e cheio de charme, soltou a frase que desarmou qualquer preocupação: teu amor também entorta minha lógica… e eu adoro.

O Rei riu, mas em seguida se aproximou, pegando a Rainha pela cintura, colando-a contra si, como se quisesse mostrar que para ela, torto ou reto, o que mais importava era o coração que pulsava em seu peito. Os olhos dela brilharam, cúmplices, carregados de sedução. Ele a beijou com calma, deixando claro que até os erros, quando divididos entre eles, se transformavam em vitórias.

Enquanto Luzia e Nilo se enroscavam juntos no fundo da sala, e Lórien e Bravus bocejavam, entregues à paz daquele lar, o Rei murmurou baixinho ao ouvido da Rainha: não importa se a estante não ficou perfeita, porque a vida contigo me mostra que o verdadeiro encanto está justamente nas imperfeições que dividimos.

Ela sorriu, respondeu com um beijo suave e o abraçou forte, como se naquele instante não houvesse móvel torto, apenas a certeza reta e inabalável de um amor que nada poderia desalojar.