O Nome do Autor

A semana seguinte pareceu ainda mais arrastada do que a anterior. Clara mantinha o envelope guardado dentro de um livro, como se temesse que, ao deixá-lo solto, ele pudesse simplesmente desaparecer. Por mais que tentasse se convencer de que não passava de uma brincadeira, havia algo nos versos, aquela melancolia tão íntima que não lhe permitia esquecer.

Na sexta-feira, ao retornar de uma longa caminhada pela floresta coberta de neve, lá estava outro envelope, repousando no mesmo lugar da varanda. O coração dela disparou de imediato. Pegou o papel com as mãos trêmulas e correu para dentro, como se o frio externo fosse capaz de roubar o calor daquela descoberta.

Dessa vez, as palavras não eram apenas um poema inacabado. O remetente se apresentava: Rafael.

Escrevia com uma clareza inquietante, descrevendo a própria sensação de viver na casa durante o inverno. Mencionava o ranger do piso da escada, a janela do quarto que nunca fechava por completo, a marca de queimadura antiga na borda da lareira. Pequenos detalhes que apenas alguém que habitasse aquele lugar poderia conhecer. Clara sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.

A ideia de estar sendo observada começou a crescer em sua mente. Levantou-se, foi até as janelas e espiou a escuridão que cercava a casa. Nada além da neve e do vento. Seria possível que alguém tivesse morado ali antes dela e estivesse apenas brincando com memórias deixadas para trás? Ou havia, de fato, alguém que a vigiava em silêncio?

Sentou-se à mesa, abriu um caderno novo e, pela primeira vez em muito tempo, pegou uma caneta sem obrigação prática, mas por impulso. Escreveu uma carta curta, quase um desafio disfarçado de curiosidade:

“Rafael, encontrei suas palavras e não consigo ignorá-las. Quem é você realmente? Como pode descrever esta casa como se ainda vivesse aqui? Deixo este bilhete na mesma varanda. Se decidir responder, estarei esperando.”

Dobrou a folha com cuidado, colocou-a em um envelope improvisado e, antes que a noite se aprofundasse, deixou-o no mesmo espaço onde encontrara as cartas. Ao voltar para dentro, Clara sentiu algo que não experimentava desde a perda da mãe: uma expectativa viva, quente, pulsando em suas veias.

Naquele instante, percebeu que não importava se era uma brincadeira ou uma estranheza inexplicável. Queria descobrir quem era Rafael, e estava disposta a seguir esse jogo até onde fosse possível.