O Nome na Parede – Capítulo 27

O cheiro de mofo e ferrugem impregnava o ar no porão da casa, onde o tempo parecia ter parado. Clara desceu os degraus lentamente, guiada por uma inquietação crescente, um impulso que não soube explicar. A lanterna em sua mão tremia levemente, projetando sombras vacilantes nas paredes de pedra, onde o reboco descascado deixava entrever histórias esquecidas.

Ela havia sonhado com aquele lugar na noite anterior. No sonho, uma voz, talvez a de Elias, talvez a sua própria — sussurrava: “A resposta está atrás da tinta.”

Deteve-se diante de uma parede em particular. Não havia nada de especial nela à primeira vista, exceto por um leve desnível na textura. Aproximou-se. A luz da lanterna revelou um trecho onde o reboco parecia mais antigo, como se camadas de tinta tivessem sido acumuladas ali ao longo dos anos — não para decorar, mas para esconder.

Com as unhas, Clara começou a raspar a superfície. A tinta soltava-se em escamas, revelando um tom amarelado por baixo. Continuou com mais pressa, quase em transe, até que seus dedos tocaram algo diferente, uma reentrância fina, como um sulco entalhado à mão.

Quando limpou o pó com a manga da blusa, a visão lhe tirou o fôlego:

CLARA
— 1923 —

O nome estava ali, gravado com delicadeza quase reverente, em uma caligrafia que ela conhecia bem. A mesma dos cadernos de Elias. A mesma das cartas e das assinaturas nos quadros inacabados. Cada letra parecia pulsar, viva, como se a parede tivesse esperado todo esse tempo apenas por ela.

Mas havia algo impossível. Clara nascera em 1973.

“Como ele…?” sussurrou, passando os dedos pelo nome. Sentiu uma leve vibração sob a pele, como se a parede respirasse com ela. Como se, de alguma forma, Elias já soubesse que ela viria.

Atrás do nome, outra inscrição, quase apagada, exigiu esforço para ser decifrada. As palavras surgiram aos poucos:

“Onde o tempo curva, a alma se reconhece.”

Clara recuou, ofegante. O porão parecia girar ao redor de si. Aquilo já não era uma busca por respostas, era um mergulho em algo muito mais profundo: um elo que desafiava a lógica, o tempo e até mesmo a própria existência.

E pela primeira vez, Clara não teve medo.
Teve a estranha sensação de que, de alguma forma, sempre esteve ali.

O Nome na Parede – Capítulo 27