✦ O Perfume das Coisas Boas – Capítulo 27

No alto de um prédio antigo, com janelas grandes e muitas plantas na sacada, vive Isadora. Ela não se apresenta como bruxa, mas quem passa pela porta do seu pequeno ateliê sente que ali existe algo diferente. Os vizinhos dizem que a presença dela é como um abraço morno num dia difícil, mas poucos sabem que o segredo está nos perfumes que ela cria.

Isadora é perfumista. Mas seu ofício vai além dos frascos bonitos e das notas olfativas. Ela mistura aromas como quem mistura bênçãos. Um toque de lavanda para acalmar a mente, uma pitada de limão para clarear os pensamentos, alecrim para fortalecer a coragem e um fio invisível de jasmim que reacende a esperança.

As essências não são vendidas em lojas comuns. Isadora entrega seus perfumes apenas depois de ouvir histórias. Pessoas chegam ao seu ateliê carregadas de silêncio, e aos poucos começam a falar — sobre o cansaço, a falta de sentido, a ausência de alegria nas pequenas coisas. Ela escuta, anota em um caderno com capa de linho azul e, enquanto a pessoa ainda respira fundo, já começa a trabalhar nas misturas.

Alguns a chamam para harmonizar espaços. Escritórios onde as ideias não fluem, consultórios onde os pacientes choram mais do que deveriam, lares em que a tristeza se recusa a sair. Isadora entra com suas gotinhas de alquimia e, de repente, a luz parece mais quente, os sons mais suaves, e até o tempo desacelera.

“Não é magia”, ela diz com um sorriso misterioso. “É apenas lembrar às coisas como elas deveriam cheirar.” E talvez seja mesmo isso — um lembrete sutil de que há beleza em estar vivo, de que o ar pode carregar memórias boas e que todo espaço pode voltar a ser um lar.

Isadora nunca pede nada em troca. Mas cada pessoa que vai embora com um frasco em mãos sabe que algo mudou. Elas saem mais leves. E sempre, sempre olham para trás, como se quisessem gravar aquele instante no coração. Porque o perfume das coisas boas é exatamente assim: invisível, mas inesquecível.

O Perfume das Coisas Boas – Capítulo 27