O Perfume das Ervas – Capítulo 156

Reino de Veramor nova capa

O Perfume das Ervas

O jardim de Veramor despertava com um aroma que parecia nascer do próprio chão. O sol espalhava sua luz clara sobre os canteiros de ervas, e cada folha reluzia com um brilho delicado. A Rainha caminhava entre os vasos com uma cesta nos braços, pronta para colher as ervas aromáticas que usariam para banhos e infusões. O Rei seguia ao seu lado, observando a forma suave como ela tocava cada planta, quase como quem toca um segredo antigo.

Ícaro voava de um galho ao outro, repetindo as palavras que aprendia enquanto o casal colhia as folhas frescas. Alecrim, murmurava ele com um canto leve. Hortelã, e sua voz ecoava suave entre as copas. Lavanda, dizia em um tom mais prolongado, como se saboreasse o som. Cada palavra ganhava um brilho novo quando saia do pequeno pássaro, transformando o jardim em uma sala de aula perfumada e cheia de ternura.

Nilo aproveitava a altura dos vasos para se esconder, movendo-se entre eles como um pequeno explorador em missão secreta. Às vezes apenas a ponta do rabo aparecia, tremendo de excitação. Em outras, ele surgia repentinamente diante do Rei ou da Rainha, esperando um afago antes de desaparecer novamente nas sombras verdes.

Lórien caminhava perto do casal com passos tranquilos, acompanhando a rotina com a sabedoria de quem sabe que ali existe um lar. Seus olhos atentos seguiam cada movimento, e seu corpo permanecia sereno, absorvendo a paz daquele momento. Ele respirava o perfume das ervas como se reconhecesse nelas uma memória que conforta.

A Rainha inclinou-se para colher um ramo de manjericão, e o Rei segurou a cesta para que ela pudesse colocar as folhas com delicadeza. As mãos deles se tocaram por um instante simples, mas intenso o suficiente para transmitir cumplicidade e afeto. O perfume das ervas subia no ar como uma bênção silenciosa, envolvendo-os em uma sensação de casa, cuidado e presença.

Ícaro pousou na borda de um vaso e repetiu, com o canto suave que era só dele, o nome da planta que o Rei acabara de colher. Camomila. A pronúncia saiu quase perfeita, arrancando um sorriso largo da Rainha. Ela estendeu o dedo, e o pássaro aproximou-se, roçando o bico na ponta como um gesto de carinho aprendido.

Nilo, cansado de suas explorações, deitou-se sob um pequeno arbusto de sálvia. Lórien sentou-se próximo ao casal, deixando seu corpo tocar a grama fresca. O Rei observou tudo com um sentimento de plenitude que aquecia seu peito. A simplicidade daquele instante parecia maior do que qualquer festa ou cerimônia.

Quando terminaram a colheita, a Rainha ergueu a cesta perfumada e respirou fundo, fechando os olhos. O Rei a observou com admiração silenciosa. Ali, entre as ervas, os animais, o aroma da terra e a luz do sol, ele viu uma pequena cena de eternidade.

E nesse quadro sereno, onde amor e natureza se misturavam sem pressa, o perfume das ervas parecia sussurrar o que o coração deles já sabia: que o cuidado partilhado é uma forma profunda de amor, e que cada gesto simples tem o poder de fortalecer tudo o que floresce entre duas almas que escolheram caminhar juntas.

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