🌷O Primeiro Amanhecer de Ícaro

O sol subia lentamente sobre os jardins de Veramor, tingindo de ouro as pedras antigas do castelo. Era o primeiro amanhecer desde a chegada de Ícaro, o pequeno viajante de asas verdes, e havia uma leveza nova no ar, como se cada folha soubesse que algo sagrado havia começado.

Ícaro despertou antes de todos, pousado sobre o parapeito da janela que dava para o orvalho. Movia as asas com curiosidade, experimentando o espaço, como quem aprende o significado do lar. Seus olhos refletiam o jardim e, por um instante, o tempo pareceu suspenso entre o bater das asas e o som distante de sinos que anunciavam o início do dia.

Lórien, fiel e paciente, ergueu a cabeça de seu canto junto à lareira. Farejou o ar, reconhecendo o novo amigo. Seu rabo moveu-se lentamente, num gesto de aceitação silenciosa. Já Nilo, com sua elegância felina, aproximou-se com o andar altivo dos que se sabem soberanos. O gato olhou Ícaro com uma curiosidade quase filosófica, entre o desafio e o fascínio, como se avaliasse o equilíbrio das cores e o brilho daquelas penas.

Ícaro, destemido, inclinou-se e, em um tom suave, balbuciou as primeiras palavras que aprendera na véspera: Bom dia, Veramor.

O Rei, que observava à distância, sentiu o coração se abrir. A Rainha, ainda envolta no lençol branco, sorriu diante daquela nova harmonia que nascia. Havia algo de divino naquele instante, o castelo respirava outra vez, a vida voltava a cantar nas janelas.

Lórien levantou-se, aproximou-se devagar e deitou-se aos pés da cama da Rainha, enquanto Nilo saltava para o parapeito, acompanhando o voo breve de Ícaro pela sala. A convivência dos três formava uma espécie de trindade viva: a lealdade, o mistério e a liberdade, juntos sob o mesmo teto.

O Rei tomou a mão da Rainha e, olhando para o pássaro que agora pousava sobre o espaldar da cadeira real, disse em voz baixa, com ternura que parecia oração: Mesmo as manhãs antigas renascem quando há amor para sustentá-las.

A Rainha respondeu com um olhar que continha o reflexo do tempo e da eternidade. Ícaro, sentindo a vibração suave daquele amor, emitiu um canto doce, que encheu o salão como se o próprio ar tivesse acordado para uma nova vida.

Assim começou a nova rotina em Veramor, com voos curtos, risos, passos lentos e o som de um pássaro que anunciava não apenas o dia, mas a promessa de uma nova estação.