O Rastro que Deixa – Capítulo 9

No silêncio dos corredores do Reino de Veramor, onde até o tempo anda de pés descalços para não perturbar os sentimentos, a Rainha pressentia: havia algo no ar. Não era perfume, nem brisa. Era o Rei. Mesmo quando não dizia palavra alguma, ele deixava rastros. Nos livros abertos, nas xícaras de chá esquecidas, no lençol com cheiro de saudade.

Ela caminhava entre o jardim e os corredores internos com a intuição aguçada como quem escuta passos que não fazem som.

“Não sei por onde você anda quando está em silêncio, meu Rei, mas sinto quando pensa em mim…”, sussurrou ela para o vento, certa de que ele escutaria.

E ele, à distância, na torre do palácio, lendo velhos registros do Reino, parou por um instante. Sorriu de canto, como quem sente a pele arrepiar sem razão aparente, e respondeu para si mesmo:

“Você me lê sem precisar das letras. Você me escuta até quando o mundo se cala. E quando repito o que escreveste… é porque você ficou em mim. Você mora até no meu eco.”

No Reino de Veramor, o amor não anda com pressa. Ele caminha devagar, mas deixa rastro. Em cada olhar, em cada pausa, em cada ausência que, no fundo, é só um tipo de presença em outro plano.

E ali, mesmo sem se tocarem, o Rei e a Rainha sabiam: onde há rastro, há história. E onde há história, há amor que não termina.

O Rastro que Deixa – Capítulo 9

Brasão Reino de Veramor

V&R
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