✦ O Reencontro dos Guardiões Silenciosos – Capítulo 16

O céu estava velado por uma névoa suave, como se o mundo prendesse a respiração. Maíra caminhava em direção ao círculo ancestral onde as pedras vivas formavam um contorno sagrado, delimitando um espaço que não era apenas físico, mas espiritual. Cada pedra parecia pulsar com uma energia antiga, vibrando em frequências que apenas corações despertos podiam perceber.

Ao chegar ao centro do círculo, o tempo pareceu se dilatar. As árvores ao redor se curvaram levemente, como em saudação silenciosa. Então, eles começaram a surgir. Não vinham com passos ou ruído, mas com a presença serena de quem habita as camadas invisíveis do mundo.

O guardião da água emergiu primeiro, com olhos translúcidos como lagos e cabelos que gotejavam memórias líquidas. Dele, emanava a doçura do acolhimento e a profundidade das emoções ancestrais. Depois veio o do vento, leve como pensamento, com palavras não ditas que sussurravam em espirais ao redor de Maíra, trazendo consigo os sorrisos esquecidos e os segredos lançados ao céu.

O fogo chegou com passos firmes, olhos de brasa e uma presença que queimava sem ferir. Sua energia era o impulso, a faísca que faz a semente romper a terra. Por último, o guardião da terra pisou o solo com a firmeza de mil gerações. Seus braços carregavam o cheiro das raízes, e sua voz era muda, mas ressoava dentro dos ossos.

Eles se colocaram ao redor de Maíra. Cada um estendeu as mãos e, com gestos lentos, revelaram os fragmentos da verdade que haviam guardado por séculos. Um pedaço do rio antes do tempo. Uma partícula da chama que acende a memória. Um punhado de vento carregado de canções extintas. Um grão da terra onde tudo começa e retorna.

Maíra ficou ali, de pé, com a raiz ainda viva pulsando em seu interior, com as visões refletidas nas águas invertidas, com a palavra não dita desenhada no céu. Era ela agora quem carregava o todo. Ela não era apenas herdeira. Era ponte, era retorno, era lembrança encarnada.

Os guardiões não falaram, mas Maíra os entendeu. Seu reencontro não era apenas celebração. Era passagem. O ciclo que se fechava com sua chegada agora pedia uma nova abertura.

Na quietude do círculo, um novo alicerce foi plantado.

E o mundo, mesmo sem saber, respirou um pouco mais fundo.

O Reencontro dos Guardiões Silenciosos – Capítulo 16