O Risco da Ruptura

As palavras de Rafael chegaram com o peso de um presságio. Na carta, ele confessava que talvez não tivesse muito tempo de vida. A doença que o enfraquecera semanas antes voltara com força, e os médicos diziam que o inverno seria decisivo. Suas frases eram curtas, mas carregadas de uma ternura que só nasce quando se escreve à beira do fim.

Clara leu a carta diversas vezes, incapaz de aceitar a ideia de que o destino pudesse vencê-los. O amor que crescia entre eles não podia se curvar diante do tempo, nem da morte. Decidiu que lutaria contra qualquer fronteira. A casa, antes refúgio, transformou-se em templo. Acendia velas, escrevia à luz da lareira, e suas cartas tornaram-se preces disfarçadas de palavras de amor.

Em cada página, prometia encontrá-lo — em qualquer época, em qualquer forma. Escrevia não apenas para consolar, mas para selar uma aliança que desafiava o impossível.

O silêncio que se instalava entre uma carta e outra pesava mais do que o frio da montanha. A cada resposta dele, Clara sentia a voz enfraquecer, o ritmo das palavras se tornar mais lento, como se o tempo estivesse cobrando o preço de suas trocas.

Mesmo assim, ela persistia. Não por teimosia, mas por fé. O amor, acreditava, podia reescrever os limites do destino. Ainda que o inevitável pairasse sobre ambos, era nas palavras que continuavam a existir — como dois corações tentando pulsar no mesmo instante, em séculos diferentes.