O Silêncio do Jardim

O jardim de Veramor amanheceu envolto em um silêncio que não era vazio, mas profundo. As flores permaneciam abertas, doces e coloridas como sempre, porém o ar parecia caminhar mais devagar entre as pétalas. A luz tocava tudo com uma suavidade incomum, quase como se temesse perturbar algo sagrado que repousava ali.

O Rei caminhava ao lado da Rainha com passos tranquilos, mas seu olhar era mais atento do que de costume. Havia uma delicadeza nova na forma como ela respirava, uma pausa mais longa nos olhos ao observar as rosas, um leve cansaço escondido entre os movimentos do corpo. Ele percebeu tudo em silêncio, com o coração tomado por um instinto que só nasce do amor profundo. Nada nele era preocupação que pesa, mas cuidado que acolhe.

A Rainha sentou-se no banco de pedra próximo às ameixeiras e deixou que o vento tocasse seus cabelos. O gesto foi calmo, porém lento, como se o mundo estivesse um pouco mais distante naquele instante. O Rei sentou-se ao lado dela sem dizer palavra. Apenas ofereceu sua presença, como quem estende um manto invisível de proteção e afeto.

Ícaro pousou no parapeito logo acima deles. Seus olhos negros brilharam em silêncio, atentos ao que se passava. O pássaro, sempre tão falante, não cantou. Limitou-se a inclinar a cabeça para observar a Rainha, como se também percebesse a mudança sutil no ar. Suas asas se ajeitaram com cuidado, e ele permaneceu ali, quieto, participando daquele momento de forma tão sensível quanto o próprio vento.

Nilo aproximou-se devagar, deitando ao lado das pernas da Rainha. A cabeça macia repousou sobre o chão, e seus olhos ofereceram conforto. Havia algo puro na forma como ele se acomodou, como se dissesse com sua simples existência que estava ali para envolvê-la em calmaria. A respiração dele acompanhou o ritmo sereno do jardim, tornando o silêncio ainda mais gentil.

Lórien manteve-se a alguns passos dali, observando com seu olhar fiel. Ele não se aproximou tanto quanto Nilo, mas sua postura guardava o mesmo entendimento silencioso. O cão permanecia atento, respeitando o espaço do casal e testemunhando com sabedoria o instante de delicadeza que se formava ao redor da Rainha.

O Rei pousou a mão sobre a dela com suavidade. O toque era leve como pétala caída, mas continha uma promessa silenciosa de cuidado. A Rainha o olhou por um instante, e no fundo de seus olhos havia uma doçura cansada, uma ternura que parecia pedir apenas calma, apenas presença. Ele respondeu com um sorriso pequeno e sincero, como quem compreende que o amor também floresce na quietude.

O jardim respirava junto com eles, acolhendo aquele silêncio especial. Não havia urgência. Não havia pressa. Apenas a certeza de que o amor verdadeiro sabe ouvir antes de agir e sabe perceber antes que as palavras existam. E naquele instante, envoltos pela luz suave e pela companhia atenta de Ícaro, Nilo e Lórien, o Rei e a Rainha deram seus primeiros passos em uma fase mais delicada, em que o cuidado se transformaria na linguagem mais profunda entre eles.

O silêncio do jardim não era ausência. Era o início de uma escuta amorosa que mudaria tudo o que viria depois.