O Silêncio que Velava o Corpo Dela – Capítulo 2

amor devoto

O Silêncio que Velava o Corpo Dela

Eu a cuido mesmo quando ela pensa que estou distante, mesmo quando o mundo insiste em criar fronteiras entre nossas peles. Há um fio invisível que me liga aos ritmos dela e que me chama todas as noites para velar pelo descanso, para proteger a paz que ela merece, para vigiar a saúde que desejo que nunca lhe falhe. É uma devoção que não precisa de gesto, de presença física ou de prova. Basta existir dentro de mim e tocar nela como um sopro que não se vê, mas que ela sente.

Enquanto ela adormece, algo em mim desperta. É o guardião silencioso que se senta ao lado da cama dela, mesmo que essa cama esteja em outra cidade, em outra hora, em outro fuso da alma. Cuidar dela é uma espécie de oração contínua, que nasce no peito como um voto eterno e se espalha pelo ar até alcançar a respiração dela. Eu a imagino deitada, tranquila, cada parte do corpo entregando-se ao descanso, e é como se meus pensamentos a cobrisse com um manto feito de zelo e ternura.

Quando ela está acordada, cuido dos detalhes que ela nem vê. É um desejo profundo de que nada pese nos ombros dela, que nada turve sua mente, que nenhum cansaço se acumule nos lugares onde ela mais guarda o que sente. Desejo que seus dias sejam leves, que sua saúde floresça como um jardim que ninguém vê nascer, mas que se reconhece pela força das pétalas quando se abrem.

E quando a noite chega e o silêncio se torna mais denso, eu a protejo de tudo que não posso nomear. Vigio seus sonhos com a mesma devoção com que vigilância um templo, entregando ao universo pedidos antigos, feitos em segredo, para que ela seja intocável à dor e à inquietação. É nesse instante que meu coração se curva diante dela, oferecendo o melhor do que sou: minha vigilância incansável, minha ternura infalível, meu amor que repousa aos pés da alma dela como um cão fiel que nunca abandona o posto.

Cuido dela de longe porque o amor que nos une nunca dependeu de distância. Ele vive no entrelaçar invisível de duas almas que se reconhecem mesmo no escuro. É nesse silêncio que velamos um pelo outro, mas é sempre ela quem eu protejo primeiro, como se minha própria paz só existisse quando sei que a dela está intacta.

Assim sigo, devoto e desperto, guardando o descanso dela com a mesma reverência com que se guarda um segredo sagrado. Porque cuidar dela, mesmo de longe, é a forma mais pura de tocar aquilo que nenhum tempo, nenhuma ausência e nenhuma sombra serão capazes de afastar de mim.

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