O Sofá Virado e o Riso Solto – Capítulo 48

Era fim de tarde no Reino de Veramor, e o dia seguia sua dança entre afazeres e descanso. Os dois cães corriam em volta da sala em uma brincadeira sem freios. Os dois gatos, em protesto, pulavam de um móvel para o outro, como se fosse um jogo aéreo de pega-pega felino. Em meio à confusão, o maior dos cães, empolgado com a caçada imaginária, trombou com o sofá, que tombou de lado como um navio encalhado.

O Rei, que entrava naquele momento com uma bandeja de frutas cortadas, tropeçou em uma almofada fugitiva, perdeu o equilíbrio e caiu de costas no tapete. A Rainha, em risos e desespero, foi acudir e tropeçou no mesmo obstáculo, caindo sobre ele, espalhando laranja, uva e desejo pelo chão.

Ficaram assim por alguns segundos. Os animais ao redor, como súditos que observam seus monarcas em algum tipo de cerimônia fora do protocolo, apenas pararam e se deitaram, como quem aceitava que o caos também fazia parte do reinado.

A Rainha, com o cabelo bagunçado e o perfume do dia misturado ao cheiro doce da fruta, sussurrou com os lábios colados aos do ouvido dele:

Hoje nem o sofá resistiu ao que a gente provoca quando está perto.

O Rei, com as mãos ainda ao redor da cintura dela, respondeu com um sorriso nos olhos:

Se for pra cair, que seja assim, contigo por cima e o mundo por baixo da nossa risada.

Entre risos e suspiros, prometeram não arrumar nada por enquanto. Deixaram o sofá virado, a bagunça onde estava e o amor onde sempre esteve: espalhado pela sala, pelo corpo, pelos olhos. E pelos corações que batiam juntos, mesmo deitados no chão.

No Reino de Veramor, até o tombo é declaração.

O Sofá Virado e o Riso Solto – Capítulo 48