O Tesão Também Espera no Inbox – Capítulo 10

As mensagens seguem um roteiro calmo, educado, quase cotidiano. Palavras cuidadosas, gentilezas bem colocadas, uma leveza que parece à prova de qualquer tensão. E, ainda assim, há algo que não se diz. Algo que escapa por entre os espaços do texto, sem ser nomeado.

Ele escreve mais do que ela. Fala do que sente, do que imagina, do que gostaria. Ela lê, responde, mas nunca toca nesse território. Suas palavras não atravessam nenhuma linha. São retas, limpas, serenas. E é exatamente isso que o desarma.

Talvez seja o jeito como ela ignora certos comentários sem parecer que está evitando nada. Talvez seja só o ritmo da escrita, ou a forma como ela encerra uma conversa com um “boa noite” que deixa um eco. Ela não provoca. Mas ele sente.

Sente porque, mesmo em silêncio, há algo nela que o prende. Uma presença discreta, que não se insinua, mas que nunca o deixa em paz. Um tipo de desejo estranho, que não se alimenta de promessas ou pistas, mas que cresce na ausência delas. No vazio das entrelinhas.

Ela é elegante até nas pausas. Ele sabe que ela leu quando ele falou mais do que devia, que ela viu quando ele deixou escapar o que sentia. Mas ela não comenta. Não rebate. Não flerta. E, no entanto, fica.

Ela fica ali. Sempre ali. E, com isso, ele também.

O prazer — se é que se pode chamar assim — está nessa permanência muda, nesse tipo de presença que não precisa de palavras. Um desejo sem nome, sem corpo, mas que insiste em existir. Mesmo quando tudo parece calmo. Mesmo quando ela não diz.

Capítulo 10: O Tesão Também Espera no Inbox