✦ O Toque que Cura – Capítulo 15

Na movimentada praça do bairro, entre os sons dos feirantes, das crianças brincando e das conversas cruzadas, há um banco de madeira que parece sempre estar no lugar certo, na hora exata. Ali, senta-se uma mulher de olhar sereno e mãos leves. Ninguém sabe seu nome completo. Alguns a chamam apenas de Clara. Outros preferem o título que lhe cabe com mais precisão: a bruxa do toque.

Clara não fala muito. Chega com um lenço de linho claro nos ombros, uma bolsa de tecido cheia de ervas secas, olhos atentos e uma paz que se espalha mesmo antes de qualquer gesto. Ela apenas observa. Percebe os ombros caídos de quem carrega demais. As mãos trêmulas de quem tenta segurar um mundo desabando. As costas curvadas de quem já se esqueceu do que é receber cuidado.

Ela então se aproxima devagar. Pede permissão com o olhar e toca com suavidade. Apenas a ponta dos dedos. Um toque breve no ombro, outro na nuca. Às vezes uma das mãos repousa nas costas como quem diz silenciosamente “estou aqui”. E ali, naquele instante, acontece algo difícil de descrever: a tensão cede. As lágrimas encontram caminho. A alma começa a lembrar do que havia esquecido — que ainda pode confiar, que ainda pode sentir alívio.

Dizem que os toques de Clara carregam energia ancestral, passadas de avós que curavam com benzimentos e mães que embalavam dores com cantigas. Mas Clara nunca confirma. Ela apenas continua indo à praça, sempre no mesmo banco, sempre com o mesmo silêncio, como se a própria cidade soubesse que precisa deixar espaço para aquela magia sutil.

Naquele dia, uma mulher chegou com os olhos vermelhos de quem não dormia há dias. Sentou-se sem falar. Clara apenas encostou os dedos em seus ombros. A mulher começou a chorar, um choro limpo, sem palavras. Quando levantou, sua postura era outra. O cansaço ainda estava lá, mas agora havia também um fio de esperança.

E Clara sorriu. Não porque o mundo havia sido salvo, mas porque uma pequena parte dele acabara de ser lembrada do seu valor. Às vezes, é disso que a magia precisa. Não de feitiços grandiosos, mas de toques pequenos, verdadeiros e curadores.

O Toque que Cura – Capítulo 15