O Último Capítulo que Nunca Vem – Capítulo 44

Era fim de noite no Reino de Veramor. A brisa soprava morna pelas janelas abertas do quarto real, trazendo o perfume doce das flores do jardim e o som de uma casa que já adormecia em paz. No tapete ao lado da cama, uma cena encantadora se formava: os dois cães e os dois gatos, todos espremidos no mesmo espaço, entregues ao sono como quem dorme depois de brincar demais, numa sinfonia dissonante de roncos que alternava entre o grave, o chiado e o desafinado. Um concerto real de quem sonhava corridas, arranhões e cafunés.

Na cama, porém, a vigília acontecia. A Rainha se virava devagar, os lençóis deslizando pela pele como seda cúmplice. Usava a camisola preferida do Rei, aquela que não escondia nada e insinuava tudo. A penumbra não ocultava seu brilho. Ela o olhou por cima do ombro, com um sorriso preguiçoso, perigoso e bonito como um segredo recém-descoberto.

Será que essa nossa história já deu o que tinha que dar, meu Rei?

O Rei não respondeu de imediato. Estava encantado demais com a visão à sua frente. O cabelo dela caía de lado, o olhar era de quem desafiava e oferecia, como se pudesse, com uma única frase, incendiar todos os capítulos anteriores. Ele se aproximou, lentamente, como quem reconhece um território sagrado.

Ela virou de frente. Estava tão perto que bastava um pensamento para que os corpos se encontrassem. Mas ele gostava de adiar o toque, só pra saborear mais a espera.

Te amar nunca termina. Isso aqui é só o começo da eternidade.

Ela sorriu. Não aquele sorriso tímido e doce de antes. Era um sorriso de quem sabia exatamente o que queria. E o que queria estava ali, a milímetros de distância, respirando o mesmo ar, sob o mesmo cobertor de silêncios e desejos.

A mão dela escorregou até a nuca dele. Os dedos desenharam mapas invisíveis em sua pele. A perna dela se entrelaçou à dele como quem diz sem palavras: “não há onde mais eu queira estar”.

Então se beijaram. Não como fim de capítulo, mas como quem começa tudo de novo. E o beijo durou mais que os roncos lá embaixo. Mais que as estrelas daquela noite. E mais do que qualquer história poderia prever.

Porque no Reino de Veramor, não existe último capítulo. Existe só o agora. E o agora deles era feito de desejo, de promessas ditas com os olhos e da certeza absoluta de que todo dia ali seria um novo começo.

Enquanto os animais se revezavam em seus roncos desafinados, a Rainha sussurrou entre suspiros e arrepios:

E que sorte a minha viver uma história onde cada toque escreve uma nova página.

E o Rei, rendido ao feitiço da sua Deusa, respondeu apenas com a única palavra que ele sabia carregar em cada parte do corpo:

Você.

O Último Capítulo que Nunca Vem – Capítulo 44